Nenhum outro ator é capaz de causar tanto alvoroço nos lançamentos de seus filmes quanto Johnny Depp. Toda a estréia do ator é a mesma coisa: ingressos esgotados dias antes, filas gigantes, expectativa e ansiedade por parte dos fãs. E tudo isso se potencializa quando falamos dos filmes da bem sucedida franquia Piratas do Caribe, que chegou ontem (20) à sua quarta sequencia, com o pouco sugestivo título Piratas do Caribe – Navegando em Águas Misteriosas.
Pra sermos honestos, não há nada novo na história. O longa segue a mesma fórmula de sucesso que consagrou a saga: muita ação, lutas entre piratas, um pouco de mitologia, certa dose de romance e humor. Nada além disso. O único ponto que deve ser considerado é que o quarto filme da saga tem um roteiro bastante independente – o que permite que qualquer alienado que ainda não assistiu aos outros filmes da série entenda a história e se encante pelos personagens. Mas se em Piratas do Caribe – A Maldição do Peróla Negra, primeiro filme da sequencia, é possível se apaixonar de imediato pela história, o mesmo não aconteceria com Navegando em Águas Misteriosas se ele fosse o início da franquia.
Apesar da fórmula já ser conhecida, o filme não é o melhor da série. Já de cara, aviso: Jack Sparrow não vai arrancar tantas risadas quanto nos filmes anteriores. Ele perdeu a graça? Não, até porque isso seria impossível. Mas percebe-se que desta vez o pirata está meio “engessado” – como se Johnny Depp não estivesse tão confortável com a personagem como nos filmes antigos. Depois, o roteiro é rápido – até mais do que os anteriores – , mas não há muita lógica na sequencia. A história poderia ser resumida assim: todo mundo quer a Fonte de Juventude. Mas os motivos não convencem: a mocinha da trama a quer pra salvar o pai; a Espanha a quer pra destrui-la e provar que a vida eterna só estaria nas mãos de Deus; e a Inglaterra a quer porque não quer perder pra Espanha.
Além desses pontos, merece ser mencionado aqui a péssima escolha em retirar Orlando Bloom e Keira Knightley da história. Se era pra ter um casal ruim, deixassem-os lá. Afinal, romance entre clérigo e sereia é, no mínimo, arriscado. E mesmo o romance entre Angélica e Sparrow foi cansativo: Jack ficava em cima do muro por conta do caráter duvidoso da filha do pirata Barba Negra – e, no fim, acabou por fazer o correto: abandonou-a (supostamente grávida) em uma praia deserta.
Claro que alguns pontos no filme são dignos de elogios, a começar pela boa fotografia, que deixa muitos projetos grandes parecerem maquetes do colégio. Geoffrey Rush, mais uma vez, chama a atenção em cena toda vez que aparece com seu Capitão Barbossa (sarcástico, cínico, debochado – e divertidíssimo). Aliás, esse é um dos meus personagens preferidos de Geoffrey (concorrendo diretamente com o protagonista de Contos Proibidos do Marquês de Sade). Depois, vale a pena comentar a atuação de Dep que, não diferente das outras vezes, continua impagável – mesmo com as limitações acima mencionadas.
Não, não há como negar: Sparrow é, indiscutivelmente, um dos personagens mais célebres da história. Poderia arriscar dizer que ele mesmo já virou uma lenda. E não é pra menos: Johnny Depp, mais uma vez, encarna o pirata, aqui dividido entre sua personalidade de pirata e seu amor pela bela Angélica (a suficiente Penelope Cruz, que não foi tudo isso que comentaram). Há até declaração de amor entre o casal (okay, confesso que achei essa sequencia meio piegas, mas enfim…) e a revelação surpreendente de que ela estaria grávida de um filho do pirata – o que aumenta as especulações sobre a história do próximo filme da série. Sim, haverá um quinto filme da série. Talvez até um sexto. Talvez até mais.
Definitivamente, a sequencia Piratas do Caribe se reflete em um só fator: Jack Sparrow. Piratas do Caribe é Jack Sparrow – e Jack Sparrow é Johnny Depp. O próprio produtor do longa, Jerry Bruckheimer, já declarou que a saga só continua se Depp quiser. E Depp quer. O próprio Johnny (que ostenta o título de ator mais bem pago de Hollywood justamente por conta desta franquia) já disse que só irá parar de fazer Jack Sparrow quando o público se cansar – até porque este é, assumidamente, um dos personagens preferidos do ator. Mas será que o público vai se cansar de ver as aventuras de um dos personagens mais queridos nos últimos tempos? No Festival de Cannes, por exemplo, o filme foi recebido sem muito entusiasmo pela platéia.
Particularmente, eu já me cansei. Mas essa é uma questão pessoal. Apesar de reconhecer todos os méritos da saga, confesso que este não é o tipo de filme que me agrada. Mas a franquia Piratas do Caribe deu certo. Simples assim. São poucas as histórias que conseguem tamanho sucesso – tanto que a saga, ao que tudo indica, não tem previsão para acabar. A Disney consegue lucros fabulosos com Piratas do Caribe (leia-se: com Johnny Depp). Resta saber se a Disney terá fôlego pra encarar as próximas produções e criar histórias mais convincentes. E, claro, fôlego pra pagar o cachê de Depp…
cala bocaaa’