Jack White é um daqueles talentos que alavancam as expectativas sobre qualquer projeto que esteja à frente – ou mesmo aqueles em que há apenas sua participação, por menor que seja. Não à toa, as bandas que Jack liderou (ou co-liderou) foram responsáveis por, de certa forma, resgatar o rock nas últimas duas décadas, trazendo o rock sujo do underground de maneira bem sutil aos holofotes do mainstream. Entretanto, esse artista considerado genial por definição somente agora resolveu arregaçar as mangas sozinho e lançar seu primeiro disco solo, o aguardado Blunderbuss – nome que faz referência à uma espécie de arma de fogo – e, obviamente, as comparações com os trabalhos anteriores do guitarrista seriam inevitáveis.

Capa de “Blunderbuss”. Depois de duas décadas liderando grandes bandas, Jack lança seu primeiro álbum solo.
Já de cara, o primeiro ponto a ser observado é que Jack não inova em Blunderbuss. O que isso significa? Bom, não espere ouvir nada novo, pois o álbum não foge de nada daquilo o que já foi ouvido anteriormente. O disco apresenta um pouco de tudo o que Jack fez ao longo dessas duas décadas. Instrumentalmente, Blunderbuss está muito próximo ao The Raconteurs, com o uso abusivo de guitarra, baixo, bateria e piano (ou teclado), além daquele rock fabuloso influenciado pelo country.
Entretanto, isso não torna o álbum uma cópia de suas outras obras. A começar, porque Jack deixa a guitarra de lado e aqui parte mais para o uso do violão. A única faixa que tem um riff de guitarra no início é o segundo single do álbum, Sixteen Saltines. Não que a guitarra não esteja aqui: ela está, mas sempre em parceria com os outros instrumentos, especialmente o piano, que acompanha o vocal de Jack por quase todas as músicas.
Outro fator que torna o Blunderbuss original – mesmo sendo bem semelhante aos trabalhos anteriores do artista – é o fato de que Jack não experimenta novos estilos, mas adotou vários deles ao longo das 13 faixas do disco. Jack, ao que tudo indica, não está preocupado em ampliar seu rock, mas apenas aperfeiçoar aquilo que ele já faz bem (ok, muito bem). Extraordinariamente, Jack não apresenta nenhuma inovação nem reinventa a roda, apenas engrandece tudo aquilo que fez ao longo de duas décadas em um álbum que é coeso e determinado em todos os sentidos.
Quer uma prova simples? Escolha o que você quer. Quer uma canção com a guitarra suja de White? Ouça Sixteen Saltines ou mesmo Freedom at 21. Quer uma música comercial para sacudir o esqueleto? Que tal I’m Shakin’ (o ótimo cover de Little Willie Johnson, ótimo mesmo!)? Ah, você quer uma música para sofrer de amor? Ok, tem Love Interruption. Há de tudo ali. Não há nada novo, mas há uma mistura tão coesa que eleva a qualidade do álbum. Jack cospe na cara do ouvinte os mais variados estilos e referências que juntou ao longo dos anos, mas nem por isso isso soa arrogante ou pretencioso.
Há quem possa torcer o nariz para a falta de inovação de Blunderbuss. É compreensível. O álbum realmente não tem nenhuma surpresa, mas é tão excelente quanto tudo o que se esperava dele. De longe, é o trabalho que apresenta, talvez, as melhores letras do artista – conscientes durante todo o disco. Blunderbuss não é simplesmente um olhar no passado ou uma passada rápida nas referências de Jack, mas sim uma produção que demonstra o porquê Jack é considerado um dos maiores representantes dessas referências que todos sentem falta. Blunderbuss deixa claro que Jack não é apenas o irmão bastardo de Johnny Depp (piada, sacou?), mas também o artista que é uma espécie de selo de qualidade no rock atual.