Você, cinéfilo, já deve ter se deparado com o termo exploitation. Esse substantivo é utilizado para designar um gênero de filme (geralmente feito com orçamento baixo e pouca qualidade cinematográfica) onde seus temas são tratados de forma absurda e sensacionalista. De uns anos para cá, o gênero tem ganhado um status “cult”, especialmente por conta de alguns fãs famosos – entre eles, nomes como Quentin Tarantino, John Waters e Robert Rodriguez. Este último, aliás, que dirigiu Machete Mata – segunda parte de uma trilogia que vem conquistando uma legião de fãs e admiradores do gênero.
Logo de cara, vou deixar claro: não vou me ater tanto nessa crítica a elementos técnicos do filme como obra de cinema. Analisar Machete Mata ou qualquer outro produto do gênero sob este aspecto é dispensável. Isso porque a grande sacada do exploitation é justamente… ser ruim, digamos. O objetivo aqui é “escrachar”, é ligar o “foda-se” e fazer um trabalho sem o menor interesse em ser bom. E é justamente essa falta de compromisso que faz com que este estilo de filme seja tão excepcional.
Falando especificamente de Machete Mata: aqui, temos novamente o anti-herói mexicano Machete (protagonizado pelo ator Danny Trejo), um cara durão o suficiente para virar uma lenda dentro de seu universo. Na história, ele é contratado pelo presidente norte-americano para matar Mendez, um revolucionário mexicano que ameaça o governo com ataques nucleares. No entanto, Mendez tem em seu corpo um aparelho que, caso seu coração pare de bater, é capaz de explodir uma bomba que pode detonar uma cidade. Dessa forma, Machete tem a missão de achar o único homem vivo capaz de desarmar esse dispositivo – revelando um vilão (propositalmente no melhor estilo James Bond) com planos de dominação do mundo.
Não tente entender a história. Tentar achar alguma lógica ou localizar alguma estrutura de roteiro aqui é uma tarefa em vão. É uma produção sem compromisso – e é justamente isso que rende ótimos momentos e risadas. Além da falta de estrutura no roteiro, o filme ainda apresenta diversas imperfeições na película – sabe aquele vídeo caseiro que parece ter sido feito no fundo do quintal de casa? YEAH! As cenas são toscas, os cortes são bruscos e os efeitos beiram a bizarrice (em determinada cena, o sangue – visivelmente falso – é lançado na câmera, em uma situação de extremo mau gosto).
Quanto aos personagens, não é bom falar muito para não estragar a surpresa. Danny Trejo é simplesmente ótimo na pele de nosso herói (justamente por não saber atuar e ser um cara muito feio – tua autoestima, caro leitor, vai lá em cima após assistir o filme), enquanto outros antagonistas (ainda que não sejam muito bem desenvolvidos ou apareçam pouco) também fazem um bom trabalho. Destaque para Mel Gibson bancando de vilão ridículo e Charlie Sheen, como um presidente não convencional e totalmente amoral. Para os meninos, ainda temos Jessica Alba, Michelle Rodriguez e (prepare o coração, amigo) Amber Heard – a loura sexy e ex-affair de Johnny Depp, que teria largado o bonitão para ficar com uma modelo, aumentando ainda mais o fetiche masculino. O ponto fraco das personagens, no entanto, é que por conta de seu pouco desenvolvimento, o espectador não consegue sentir muito “carinho” por eles (já que o excesso de imprevisibilidades na trama faz com que você nunca saiba o que vai acontecer com nenhum deles). Com exceção, obviamente do próprio protagonista – que apesar de progredir muito pouco em relação ao filme anterior, é tão “foda” que não tem como você não admira-lo.
Apesar de não estar indo muito bem nas bilheterias (o filme sequer estreou no país), Machete Mata é um longa que merece atenção, contendo tudo que um filme trash precisa ter para ser bom (ou ruim, como queiram): muito sangue falso na tela, mulheres gostosas desfilando com suas armas, mutilações, exageros e redundâncias, loucura excessiva e tudo aquilo que gostamos de ver sem compromisso. Os mais chatos vão torcer o nariz e criticar o diretor – injustamente, pois cá entre nós: Rodriguez está em um patamar onde não precisa mostrar muita coisa para ninguém (afinal, ele dirigiu Planeta Terror, Sin City, Prova Final entre outros tantos ótimos trabalhos). Se a intenção era fazer um filme “ruim”, Rodriguez conseguiu isso muito bem. Logo, se você procura diversão sem compromisso e apenas alguns bons momentos de risadas e alucinações, Machete Mata é um dos melhores filmes ruins do ano.