“Toque de Mestre”: Suspense Com Toques de Previsibilidade

Há quem diga que o espanhol Eugenio Mira tenha buscado inspiração em fontes hitchcockianas para dirigir Toque de Mestre (Grand Piano, 2013), que chegou aos cinemas brasileiros esta semana. De fato, Toque de Mestre é um explícito exercício do gênero, apostando praticamente em vários elementos que contribuem para a construção de um bom suspense – mas com alguns erros que o impedem de se tornar uma obra-prima do gênero ou algo memorável.

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A história de Toque de Mestre acompanha o pianista Tom Selznick (Elijah Wood), que retorna aos palcos após 5 anos de um hiato ocasionado por uma apresentação desastrosa, quando teria fracassado ao executar uma das composições preferidas de seu mentor, Patrick Godureaux. No palco, tudo parece ir bem, quando o inseguro Tom folheia sua partitura e descobre mensagens de ameaça de um provável assassino (estrategicamente instalado), cuja exigência maior é que Tom execute seu concerto sem nenhum erro – inclusive a mesma melodia que o pianista executara cinco anos antes e que causara o grande vexame de sua carreira.

Para uma produção com pouco menos de 1 hora e meia, há de se admitir que a narrativa de Toque de Mestre é ideal. O longa retrata praticamente em tempo real cada ação de sua personagem principal – de sua chegada ao teatro ao desfecho da história. O filme funciona excepcionalmente bem até sua primeira parte, ao final do primeiro ato do concerto de Tom (aliás, um elogio merecido fica por conta dos créditos iniciais). Até aqui, tudo parece ir caminhando de forma tranquila e, seguindo a linha hitchcockiana de se fazer suspense, temos um “MacGuffin” (elemento narrativo que move a trama) muito bem definido: o piano único e feito sob encomenda para o tutor do protagonista. Até aqui, o roteiro vem crescendo gradualmente – até atingir o ponto em que o excesso de clichês do gênero tornam o filme um exercício estilístico sem muito apuro.

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Não que Toque de Mestre seja ruim – porém sua previsibilidade atrapalha seu desenvolvimento. O que era para ser um excelente roteiro acaba se tornando um suspense rotineiro, sem muito a oferecer. O filme foca sua narrativa na personagem de Elijah, um pianista que pouco se sabe a respeito e o assassino (vivido por John Cusack – que, ultimamente, aceita o que vier, contanto que lhe paguem…) aparece apenas nos minutos finais do longa, quando a sequência já perdeu quase toda sua força. O personagem de Cusack é escondido durante quase toda a sequência, pois o recurso de voz off aqui é utilizado com excesso – o que aumenta a curiosidade sobre o assassino, apesar de todas as inverossimilhanças quanto à sua real motivação (totalmente implausível).

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Para completar, o elenco foi mal escalado. Elijah Wood (cujo trabalho realmente me agrada) até tentou, mas é um fato: não era a pessoa certa para o personagem. Conhecendo a biografia do protagonista, é difícil para o público associar a imagem de Wood a Tom. Isso fica ainda mais evidente quando Elijah aparece ao lado de Kerry Bishé, a mocinha da trama, insossa e protagonista de uma cena vergonhosa (quando a esposa de Tom canta em meio ao teatro lotado). É difícil enxergar Elijah e Kerry como um casal apaixonado, como sugere o longa; a química entre os dois não rola. Sobre o elenco ainda vale destacar as atuações de Alex Winter e Tamsin Egerton (respectivamente, o assistente do assassino e a amiga chata do casal), recheadas de trejeitos que tornam os personagens apáticos e exagerados. OBS.: Elijah ainda tem aquela mesma cara de pânico de todos seus personagens (ressaltada por seu belo par de grandes olhos azuis) que, me desculpem, já está incomodando.

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Toque de Mestre é um suspense que funciona como suspense – e nada alem disso. Puro exercício de estilo, o filme consegue chamar a atenção do espectador, mas não consegue prendê-la devido à sua previsibilidade. Longe de ser um fiasco, Toque de Mestre possui ainda um final digno de clássicos do estilo hitchcock – mas que não é o suficiente para fazê-lo uma obra-prima. Uma grande pena. Toque de Mestre é um clássico exemplo de filme que se perde dentro de sua previsibilidade e com o excesso de elementos de um gênero.

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