Já falei em outras ocasiões que não tenho muita vocação para comédia, mas confesso que às vezes este gênero cai bem, especialmente aqueles filmes “bobos” mesmo, fantasiosos e que não tem o menor compromisso com a realidade. Estrelado pelo sempre simpático Adam Sandler, Trocando os Pés estreia nos cinemas brasileiros esta semana – e apesar de não ser uma grande e memorável produção, é capaz de proporcionar alguns bons momentos de entretenimento para quem não tiver esperando muita coisa.
A premissa básica de Trocando os Pés (péssima tradução do original The Cobbler) poderia ser resumida com uma pergunta: o que você gostaria de fazer se pudesse ser outra pessoa? Na trama, Sandler interpreta Max Simkin, dono de uma sapataria em Nova York – um negócio que vem pertencendo à sua família há gerações. Judeu, sua rotina é limitada: vive do trabalho para casa, cuida da mãe doente e seu único “amigo” é o proprietário da barbearia ao lado. É quando o inesperado acontece: Max descobre uma antiga máquina escondida há tempos no porão da loja e qualquer calçado consertado nesta máquina tem o poder de mudar a fisionomia de quem o estiver usando, transformando a pessoa no dono do sapato.
O roteiro de Thomas McCarthy, que também dirige o longa, não é totalmente original, mas é interessante sob certo aspecto. O cineasta aposta na sutileza, na inocência – e essas são as maiores qualidades de Trocando os Pés, que não é necessariamente engraçado mas, ainda assim, consegue despertar certa empatia do público. Na verdade, chega até a estranhar uma produção com Sandler ter tamanha delicadeza – em uma das cenas mais bonitas da história, Max veste os sapatos de seu pai, promovendo um encontro comovente entre ele e sua mãe (a sequência que se segue é, no mínimo, cativante).
Infelizmente, Trocando os Pés não acerta muito bem no tom, flertando ora com a comédia “inocente”, ora com o drama “superficial”. A condução da narrativa também fica comprometida em alguns momentos, onde tramas não muito necessárias ou bem desenvolvidas começam a surgir, como o despejo de moradores de um prédio ou um bandido que tem problemas com tudo e com todos. Com isso, se destacou bem o o clima moderno da cidade novaiorquina, assim como a boa construção do protagonista vivido por Sandler – um ator de apenas um tipo, mas que o sabe fazer bem e, com isso, agradar o público. Com uma diferença: Sandler sempre parece viver o adolescente com crise de responsabilidade, enquanto aqui ele nos traz certa maturidade em cena, com um papel ligeiramente mais complexo.
Com um desfecho previsível (em determinado instante da fita, o espectador já saca na hora qual será o rumo da história), Trocando os Pés não chega a ser um desperdício de tempo. Apesar de não conseguir arrancar muitas risadas (talvez essa não seja a proposta do projeto), o filme prende a atenção e é realmente agradável, mas apenas para quem não tiver muitas expectativas. Contando ainda com a participação dos veteranos Steve Buscemi e Dustin Hoffman, Trocando os Pés poderia ter sido melhor, mas não deixa de ser um bom entretenimento para quem não espera uma obra-prima.