Tudo ia bem na vida de Jeremie. Aos 34 anos, bonito, saudável e financeiramente bem sucedido, o rapaz mantém uma relação perfeita com Antoine, com quem já divide um apartamento. O que falta para eles? Apenas oficializar a união. Quando pensa estar completamente seguro de sua decisão, Jeremie se vê diante do improvável: ele conhece uma bela mulher e tem sua primeira relação sexual heterossexual. Com isso, as dúvidas começam a surgir, abalando o relacionamento entre o casal às vésperas da cerimônia.
Uma das premissas mais clichês do cinema é o cara que não consegue contar a verdade para a pessoa que ama com medo de machuca-la. Beijei Uma Garota parte dessa ideia para construir e desenvolver sua narrativa, mas consegue ser mais interessante do que outros argumentos pois envolve diretamente a questão da sexualidade de seu personagem principal. Aqui, temos um protagonista que luta pelo direito de não “definir” sua sexualidade, mesmo quando todos à sua volta parecem já a ter determinado. Jeremie, por exemplo, é abertamente gay e tem o apoio incondicional de seus colegas e familiares – e quando conta sobre a traição, por exemplo, o pai tem uma reação que seria difícil de se imaginar.
A construção das personagens também “favorece” o universo gay da história. O núcleo formado por homossexuais é até mais “simpático” do que o grupo de heterossexuais. O próprio Antoine, o noivo de Jeremie interpretado por Lannick Gautry, é muito mais carismático do que Adna – a bela loura que, mesmo sem intenção, acaba causando toda a confusão. Pio Marmaï, por sua vez, é bastante competente em sua performance como Jeremie (com direito a cena de nudez e pegação no chuveiro), fazendo alguns trejeitos que tornam seu tipo atrapalhado um ótimo protagonista. Outro que também merece seu reconhecimento é Franck Gastambide, o amigo heterossexual que é o grande alívio cômico da trama.
Dirigido pela dupla Maxime Govare e Noémie Saglio, Beijei Uma Garota começa empolgante, perde o fôlego ao longo da fita e traz um desfecho que, particularmente, não me agradou por completo (tanto na concepção quanto na execução, que me pareceu meio nonsense, mas enfim…). Ainda assim, é um filme que merece ser conferido devido ao seu humor pontual, às atuações convincentes do elenco e também pelas polêmicas que pode gerar devido à sua proposta. Agradável de se assistir, Beijei Uma Garota diverte, sim, e poderia ser infinitamente melhor – pena que sua visão sobre o tema talvez não tenha sido um tanto limitada.