Benjamin é um jovem médico em estágio no mesmo hospital em que atua seu pai, um veterano na profissão e uns dos chefes do local. Cheio de sonhos e ambições, Benjamin logo se vê obrigado a enfrentar as dificuldades da carreira em um ambiente falido, enquanto também percorre o caminho que o levará à maturidade como ser humano.
Hipócrates é o filme de estreia do cineasta francês Thomas Lilti que, curiosamente, também é médico – e talvez por essa razão tenha conhecido de perto as agruras de um sistema de saúde francês à beira do caos. Engana-se quem pensa que a França, mesmo sendo uma nação desenvolvida, não tenha problemas neste setor – e Thomas procura justamente abordar pontos relacionados a este tema, entre eles a ética profissional, eutanásia e a estrutura médica no país. No entanto, provavelmente a pouca experiência diante das câmeras tenha feito com que o diretor se lançasse em várias subtramas, sem se aprofundar em nenhuma delas. Assim, apesar da ótima intenção, as discussões mais relevantes se tornam superficiais. Nesse emaranhado de tentativas, a trama que mais se sobressai é a relação de Benjamin com Abdel, um médico argelino de talento inegável que luta diariamente para permanecer na capital francesa.
O grego Hipócrates é considerado o “pai da medicina” – daí o título da obra. No final, o espectador tem a clara percepção de que se o filme focasse sua narrativa em um drama central, Hipócrates teria sido mais interessante. Não que o longa não tenha seus méritos – e para um estreante, Thomas Lilti se saiu bem, diga-se de passagem, especialmente no que tange às atuações (o bom Vincent Lacoste, com seu olhar assustado e indiferente no papel de Benjamin; e Reda Kateb, emprestando bastante humanidade a Abdel) e a trilha sonora bastante convincente. Apesar de meio perdido e de atirar pra vários lados, Hipócrates vale a pena até mesmo para se criar paralelos com os inúmeros problemas vividos na saúde pública brasileira – pena que não se aprofunda em nada.