Está no meu perfil, pode conferir: Scorsese é um dos meus cineastas preferidos – mas apesar disso, tenho uma relação um tanto conturbada com sua filmografia, algo que percorre a linha tênue entre o amor e o ódio, bem extremista mesmo. Há filmes que eu realmente amo e há outros que eu definitivamente desprezo (e isso vale para qualquer tipo de obra, das mais unânimes àquelas mais pessoais). Daqueles que eu amo, por exemplo: Os Infiltrados, O Lobo de Wall Street, Os Bons Companheiros ou A Invenção de Hugo Cabret. Os que eu deixo de lado: Taxi Driver, O Aviador e Ilha do Medo. Pois é, Ilha do Medo é um filme que me cansa. Embora seja uma das fitas mais elogiadas de Scorsese, admito que este thriller estrelado por Leonardo DiCaprio está longe de me agradar – isto desde sua época de lançamento. A trama acompanha o agente federal Teddy Daniels durante a investigação do desaparecimento de uma assassina internada em um presídio psiquiátrico, localizado na inóspita Shutter Island. Devido a uma tempestade de última hora, o policial é forçado a permanecer no local, enfrentando adversidades e descobrindo verdades mais obscuras do que supunha inicialmente.
Está certo que o roteiro de Ilha do Medo é bem estruturado e desenvolve bem sua personagem principal. É meu dever dizer também que, tecnicamente, Ilha do Medo faz jus às melhores películas de um cineasta que é referência até hoje. A fotografia é muito competente e favorece os bons cenários através de seus enquadramentos certeiros. Gosto muito do tom meio noir do filme (é impossível não desconfiar que nosso “detetive” não seja alvo de algum tipo de conspiração, não é?) e também do clima intenso que Scorsese cria, deixando o público sempre na dúvida sobre o que, afinal de contas, é real naquela ilha. Só mesmo um diretor gabaritado como Scorsese para fazer isso com um tema que é, aparentemente, um clichê de gêneros. É interessante notar ainda que Ilha do Medo é um dos momentos mais ousados de Scorsese – o que é reconfortante, especialmente se levarmos em conta que Ilha do Medo foi lançado pouco tempo após Os Infiltrados, pelo qual Martin faturou o merecido Oscar de melhor diretor (ou seja, o artista não se acomodou com o prêmio e continuou produzindo coisas diferentes).
Mas, ao longo de quase duas horas e meia de projeção, nem todo mundo está disposto a comprar a ideia de Ilha do Medo. Eu sou um que já o assisti várias vezes, tentando encontrar alguma coisa que me prenda a atenção – e não consigo achar. Se o argumento é bem delineado, falta aquele gostinho a mais neste filme capaz de torna-lo totalmente memorável. Talvez um protagonista mais simpático (e não DiCaprio ligado em modo automático) ou antagonistas melhores; quem sabe uma trilha mais presente e marcante; ou até mesmo cenas mais “digeríveis” – e não algumas extensas sequências que dão sono ou flashbacks usados a exaustão. Ilha do Medo não é ruim – e há pessoas que, de fato, embarcam com tudo nesta aventura. Bom, acho que este é o segredo: talvez seja necessário que o espectador entre na história. Resta saber se ele vai ter muita disposição pra isso. De minha parte, dispenso…