Para Roma Com Amor

Um dos diretores mais cultuados do cinema na atualidade, Woody Allen sabe como filmar. Ao longo de uma sólida carreira construída com excelentes produções, Woody criou uma legião de fãs que o idolatram (seja por seus filmes, seja por seu ateísmo, seja por sua excentricidade) e caem de amores por qualquer coisa que ele faça (tem até ex-colírio Capricho com tatuagem do cara, acredita?). Agora, com quase 80 anos, o diretor (que também assina o roteiro de sua vasta obra, em grande parte ambientada na cidade natal do autor, Nova York) vem apostando naquilo que muitos críticos chamam de sua “fase européia”, resolvendo se aventurar e filmar pelo velho continente, homenageando os estilos de cada cidade em que passa – óbvio, à sua velha e boa maneira.

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Para Roma Com Amor é o último trabalho do diretor, estreado em junho de 2012, e traduz bem essa nova fase do autor. Traduz bem também o gênero comédia que o consagrou, dividindo o filme em 4 esquetes, com personagens distintos, mas todos unidos pelo espírito das ruas da cidade de Roma – diferente do que ocorre em seu longa anterior, o premiado Meia Noite em Paris (onde uma única narrativa é abordada), quando Woody foi indicado ao Oscar de melhor diretor e faturou o prêmio de melhor roteiro original (orgulho!). Desembarcando na cidade italiana, o diretor aposta em um elenco afiado que faz um filme bom e bonito – mas sem muito entusiasmo.

Cena do premiado "Meia Noite em Paris".

Cena do premiado “Meia Noite em Paris”.

Não, não há muito entusiasmo e nenhum adjetivo se encaixa melhor aqui do que “bonito”. Okay, “gracioso” ou “bem feito” também são expressões que poderiam ser utilizadas. Todos os críticos são unânimes em dizer que Para Roma Com Amor é um filme mediano dentro da filmografia do cineasta, mas também o mais fraco desta sua nova fase. Tem aquela dose de humor típico de Woody Allen, mas talvez o fato de abordar Roma sob diferentes pontos de vistas tenha criado personagens pouco palpáveis e muito menos apaixonantes.

Obviamente, algumas marcas registradas de Woody estão presentes – inclusive a estética nonsense. A abordagem de relações amorosas e a crítica à sociedade dos espetáculos (vide Celebridades) também estão lá, mas as  histórias não se cruzam em nenhum momento e a sensação que se tem é que estamos diante de uma grande colcha de retalhos. Tudo muito bem costurado? Sim, mas nada muito elegante, certo? As quatro esquetes seguem as seguintes idéias:

  • Na primeira delas, um casal americano (vivido impagavelmente pelo próprio Woody e Judy Davis) viaja à Roma para conhecer a família do noivo de sua filha. Lá, o personagem de Woody (um excêntrico produtor de óperas) descobre que o pai de seu genro tem um grande talento para o gênero – mas todas suas tentativas de torna-lo um astro são frustrantes, uma vez que o cantor só consegue “atuar” no chuveiro – o que leva o filme a um final absurdo.4
  • Em uma segunda esquete, somos apresentados a Leopoldo (vivido pelo sempre talentoso Roberto Benigni), um homem comum que é casualmente confundindo com uma estrela de cinema e se torna celebridade da noite para o dia. É aqui que Woody usa seu talento para criticar a sociedade midiática atual, denunciando a indústria da fama e como ela utiliza as pessoas e as descarta posteriormente.3
  • No terceiro quadro, conhecemos um arquiteto californiano (interpretado por Alec Baldwin) que visita a Itália com um grupo de amigos anos após ter morado no país. Lá, ele vive sentimentos memorialistas e torna-se uma espécie de conselheiro amoroso para o jovem Jack (Jesse Eisenberg), um estudante local que fica dividido entre o amor por sua namorada e a paixão pela amiga sensualíssima de seu par.2
  • Finalmente, a última esquete (e para mim a melhor de todas) retrata o drama de dois jovens interioranos recém-casados que mudam para a cidade para começar uma nova vida. O casal, que aguarda a visita da família rica do noivo, é separado e enquanto o esposo tenta passar uma boa imagem à família, a noiva se perde pelas ruas de Roma e conhece um ator local cheio de segundas intenções.6

As situações cômicas abrem espaço a diálogos afiados e repletos daquele humor que só Woody Allen sabe fazer. Não que seja um longa que vá te fazer rolar de rir (afinal, esta nunca foi a finalidade das comédias do cineasta), mas há boas sacadas que valem a pena. Frases como “para você, a aposentadoria se equipara à morte” causam aquele efeito cômico e refletem diretamente todo o ridículo humano. Ou seja, não espere uma comédia rasgada, escrachada, mas sim um filme bonito que vai ser um bom entretenimento, fazendo alusão ao comportamento humano e à toda complexidade deste comportamento.

5Com uma trilha sonora divertida, o melhor de Para Roma Com Amor é o elenco. Woody Allen (que não atuava desde 2006) volta às telas como um burguês patético e ranzinza, que causa as maiores risadas da platéia. Arriscaria dizer que é minha atuação preferida de Allen. É dele a brilhante frase “Você casou com um cara brilhante! Meu QI é 150, 160…” – cuja resposta de sua esposa é mais hilária ainda: “Você está pensando em euros. Em dólares, é muito menos…“. Ellen Page também satisfaz bem como a atriz pseudo-intelectual que emana sensualidade e balança o coração do “fofo” Jesse Eisenberg (fofo com “aspas” porque é essa expressão mesmo…). Roberto Benigni também se destaca como o pai de família que vê sua vida se tornar um capítulo do BBB. Mas o destaque, de longe, é Penélope Cruz, atuando como uma prostituta que tenta se passar por boa moça – mas acaba falhando miseravelmente em sua missão.

1No final, Para Roma Com Amor é como fazer uma grande viagem para vários lugares: não dá tempo de conhecer tudo, apenas superficialmente – diferente do que aconteceu em Meia Noite em Paris. É uma comédia de costumes, funciona como entretenimento mas deixa a desejar quando a comparamos com outros clássicos do cineasta. É um filme gostoso de assistir, mas não traz nenhuma inovação dentro da obra de Woody, que está um pouco engessado nesses últimos anos. Ao menos prova que Woody ainda tem talento para agradar seus velhos fãs – que são os que mais agradecem.

As Parcerias Mais Famosas do Cinema

Dizem que em time que está ganhando não se mexe. Pois em Hollywood isso acontece com frequência – pelo menos a julgar pela quantidade de parcerias rentáveis que acompanhamos nas telonas. Obviamente, todo diretor tem um carinho especial por algum ator ou atriz e as “dobradinhas” acabam sendo inevitáveis – e tornam-se mais frequentes quando são frutíferas. Por esta razão, selecionei aqui as 10 parcerias mais famosas que já passaram nos cinemas. Veja quem são os queridinhos de alguns diretores e quais nomes são obrigatórios na folha de pagamento dessa galera…

1. Woody Allen & Diane Keaton
Se você acha que a única musa de Woody Allen é a loura e sensual Scarlett Johansson (várias vezes considerada a mulher mais sexy do mundo), está enganado. Muito antes de dirigir a bela atriz, Woody tinha como parceira de filmagem sua ex-mulher Diane Keaton, que trabalhou com o diretor em filmes como ManhattanNoivo Neurótico, Noiva NervosaA Era do Rádio, entre outros.

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2. Martin Scorsese & Leonardo DiCaprio
Ao que tudo indica, DiCaprio caiu não apenas nas graças do público, mas também do excêntrico Scorsese, que dirigiu o galã pela primeira vez no renomado Gangues de Nova York. Depois deste, vieram O Aviador, Os Infiltrados (que deu o Oscar de melhor diretor a Scorsese), Ilha do Medo e, com lançamento previsto para 2014, O Lobo de Wall Street.

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3. Quentin Tarantino & Samuel L. Jackson
Nosso bom e velho Tarantino tem o dom nato de extrair o melhor da atuação de seu elenco. Samuel L. Jackson foi um dos premiados que tiveram a oportunidade de ser dirigido pelo badalado diretor. Suas parcerias podem ser conferidas em Pulp FictionJackie BrownKill Bill: Volume 2Bastardos Inglórios (narrando) e, recentemente, em Django Livre.

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4. Ridley Scott & Russell Crowe
Famoso por suas ficções científicas que o consagraram, Ridley dirigiu o taciturno Crowe em alguns filmes famosos do diretor, como GladiadorRobin Hood. Além desses, os dois também trabalharam juntos em Rede de MentirasO GângsterUm Bom Ano.

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5. Alfred Hitchcock & James Stewart
O mestre do suspense sempre teve uma queda por protagonistas louras – mas também chegou a ter um “queridinho” no time dos protagonistas masculinos e ele foi James Stewart, que emprestou seus dotes de atuação em clássicos do diretor, como Janela Indiscreta, Festim Diabólico, O Homem Que Sabia DemaisUm Corpo Que Cai. Vale a pena também citar a parceria de Hitchcock com Grace Kelly, que trabalhou com Hitchcock em filmes como Ladrão de Casaca, o já citado Janela IndiscretaDisque M Para Matar.

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6. Martin Scorsese & Robert De Niro
Se os mais jovens associam Scorsese a DiCaprio, vale lembrar a ótima parceria do diretor com Robert De Niro. Ao longo de suas respectivas carreiras, foram oito produções da dupla, incluindo Taxi Driver, Os Bons CompanheirosNew York, New York e, obviamenteTouro Indomável – considerado por muitos como um dos melhores filmes da história. Diz a lenda ainda que foi De Niro que ajudou Scorsese a largar a cocaína, quando teria exigido que o diretor abandonasse o vício para que trabalhasse em um de seus longas.

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7. John Ford & John Wayne
Provavelmente, a parceria entre John Ford e John Wayne é a maior na história do cinema. Caracterizada pelos clássicos de faroeste e dramas de guerra, a união rendeu filmes indispensáveis para qualquer cinéfilo inveterado, como Rio GrandeA Conquista do OesteNo Tempo das DiligênciasAsas de Águia.

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8. Pedro Almodóvar & Penélope Cruz
Assumidamente homossexual, Pedro sempre deu um foco especial às “heroínas” de suas histórias. Sua primeira musa foi a atriz Carmem Maura (que trabalhou com o diretor em seu primeiro longa), artista que dirigiu em vários projetos na década de 1980. Entretanto, os mais jovens conhecem Almodóvar por sua constante escolha por Penélope Cruz, com quem trabalhou em Carne Trêmula, Tudo Sobre Minha MãeVolverAbraços Partidos – e um quinto filme já está em andamento. Vale também ressaltar a parceria de Almodóvar com Antonio Banderas, responsável por popularizar o ator em Hollywood.

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9. David Fincher & Brad Pitt
Particularmente, não sou fã nem de um nem do outro, mas temos que admitir que a parceria entre Fincher e Pitt rendeu três filmes cultuadíssimos nos meios cinematográficos – os thrillers SevenClube da Luta e o drama O Curioso Caso de Benjamin Button (este último que faturou 13 indicações ao Oscar).

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10. Tim Burton & Johnny Depp
Burton sempre teve um time de artistas preferidos que se tornaram amigos do diretor. Entre eles, destacam-se o compositor Danny Elfman (que fez a trilha de praticamente todas as obras de Burton), Christopher Lee ou Helena Bonham-Carter, atual companheira do diretor. Mas certamente nenhuma dessas parcerias pode ser comparada ao universo que foi criado entre Burton e Johnny Depp. Juntos, a dupla trabalhou em oito produções (Edward Mãos de TesouraEd WoodA Lenda do Cavaleiro Sem CabeçaA Noiva CadáverA Fantástica Fábrica de ChocolateSweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua FleetAlice no País das MaravilhasSombras da Noite). Hoje, é uma das parcerias mais rentáveis dos últimos anos e uma das mais conhecidas – afinal, assistir filme do Burton é ter a certeza de encontrar Johnny Depp caracterizado de forma tresloucada.

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Piratas do Caribe: Melhor Parar, Não?

Nenhum outro ator é capaz de causar tanto alvoroço nos lançamentos de seus filmes quanto Johnny Depp. Toda a estréia do ator é a mesma coisa: ingressos esgotados dias antes, filas gigantes, expectativa e ansiedade por parte dos fãs. E tudo isso se potencializa quando falamos dos filmes da bem sucedida franquia Piratas do Caribe, que chegou ontem (20) à sua quarta sequencia, com o pouco sugestivo título Piratas do Caribe – Navegando em Águas Misteriosas.

Pra sermos honestos, não há nada novo na história. O longa segue a mesma fórmula de sucesso que consagrou a saga: muita ação, lutas entre piratas, um pouco de mitologia, certa dose de romance e humor. Nada além disso. O único ponto que deve ser considerado é que o quarto filme da saga tem um roteiro bastante independente – o que permite que qualquer alienado que ainda não assistiu aos outros filmes da série entenda a história e se encante pelos personagens. Mas se em Piratas do Caribe – A Maldição do Peróla Negra, primeiro filme da sequencia, é possível se apaixonar de imediato pela história, o mesmo não aconteceria com Navegando em Águas Misteriosas se ele fosse o início da franquia.

Depp e Cruz em cenas do quarto "Piratas do Caribe": romance muito convencional pra Sparrow...

 

Apesar da fórmula já ser conhecida, o filme não é o melhor da série. Já de cara, aviso: Jack Sparrow não vai arrancar tantas risadas quanto nos filmes anteriores. Ele perdeu a graça? Não, até porque isso seria impossível. Mas percebe-se que desta vez o pirata está meio “engessado” – como se Johnny Depp não estivesse tão confortável com a personagem como nos filmes antigos. Depois, o roteiro é rápido – até mais do que os anteriores – , mas não há muita lógica na sequencia. A história poderia ser resumida assim: todo mundo quer a Fonte de Juventude. Mas os motivos não convencem: a mocinha da trama a quer pra salvar o pai; a Espanha a quer pra destrui-la e provar que a vida eterna só estaria nas mãos de Deus; e a Inglaterra a quer porque não quer perder pra Espanha.

Além desses pontos, merece ser mencionado aqui a péssima escolha em retirar Orlando Bloom e Keira Knightley da história. Se era pra ter um casal ruim, deixassem-os lá. Afinal, romance entre clérigo e sereia é, no mínimo, arriscado. E mesmo o romance entre Angélica e Sparrow foi cansativo: Jack ficava em cima do muro por conta do caráter duvidoso da filha do pirata Barba Negra – e, no fim, acabou por fazer o correto: abandonou-a (supostamente grávida) em uma praia deserta.

Religioso e sereia? Então...

 

Claro que alguns pontos no filme são dignos de elogios, a começar pela boa fotografia, que deixa muitos projetos grandes parecerem maquetes do colégio. Geoffrey Rush, mais uma vez, chama a atenção em cena toda vez que aparece com seu Capitão Barbossa (sarcástico, cínico, debochado – e divertidíssimo). Aliás, esse é um dos meus personagens preferidos de Geoffrey (concorrendo diretamente com o protagonista de Contos Proibidos do Marquês de Sade). Depois, vale a pena comentar a atuação de Dep que, não diferente das outras vezes, continua impagável – mesmo com as limitações acima mencionadas.

Geoffrey Rush, pra variar, em uma bela atuação.

 

Não, não há como negar: Sparrow é, indiscutivelmente, um dos personagens mais célebres da história. Poderia arriscar dizer que ele mesmo já virou uma lenda. E não é pra menos: Johnny Depp, mais uma vez, encarna o pirata, aqui dividido entre sua personalidade de pirata e seu amor pela bela Angélica (a suficiente Penelope Cruz, que não foi tudo isso que comentaram). Há até declaração de amor entre o casal (okay, confesso que achei essa sequencia meio piegas, mas enfim…) e a revelação surpreendente de que ela estaria grávida de um filho do pirata – o que aumenta as especulações sobre a história do próximo filme da série. Sim, haverá um quinto filme da série. Talvez até um sexto. Talvez até mais.

Cruz, Depp e McShine: apesar do bom elenco, "Piratas 4" não é o melhor filme da série.

 

Definitivamente, a sequencia Piratas do Caribe se reflete em um só fator: Jack Sparrow. Piratas do Caribe é Jack Sparrow – e Jack Sparrow é Johnny Depp. O próprio produtor do longa, Jerry Bruckheimer, já declarou que a saga só continua se Depp quiser. E Depp quer. O próprio Johnny (que ostenta o título de ator mais bem pago de Hollywood justamente por conta desta franquia) já disse que só irá parar de fazer Jack Sparrow quando o público se cansar – até porque este é, assumidamente, um dos personagens preferidos do ator. Mas será que o público vai se cansar de ver as aventuras de um dos personagens mais queridos nos últimos tempos? No Festival de Cannes, por exemplo, o filme foi recebido sem muito entusiasmo pela platéia.

Particularmente, eu já me cansei. Mas essa é uma questão pessoal. Apesar de reconhecer todos os méritos da saga, confesso que este não é o tipo de filme que me agrada. Mas a franquia Piratas do Caribe deu certo. Simples assim. São poucas as histórias que conseguem tamanho sucesso – tanto que a saga, ao que tudo indica, não tem previsão para acabar. A Disney consegue lucros fabulosos com Piratas do Caribe (leia-se: com Johnny Depp). Resta saber se a Disney terá fôlego pra encarar as próximas produções e criar histórias mais convincentes. E, claro, fôlego pra pagar o cachê de Depp…