Afinal, “Artpop” é Digno de Aplausos?

Você pode até tentar ficar indiferente – mas é inegável que Lady Gaga é uma grande artista. Cá entre nós, em pouco mais de cinco anos, ela conseguiu o que muitas “divas” não alcançaram em décadas: ameaçar o posto de Madonna de “rainha do pop” – e, convenhamos, se Madonna não se cuidar, quem sabe… No sentido mais amplo da expressão, Gaga é uma artista completa – ainda que com várias deficiências – e acaba de entregar ao público o terceiro registro de sua carreira, o aguardado Artpop – que divide as opiniões e colocam em cheque toda a badalação em torno da cantora pop.

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Por que Artpop divide opiniões? Bom, os little monsters (como Gaga carinhosamente apelida seus fãs) consideram Artpop o álbum do ano – e uma das maiores realizações da cultura pop nos últimos tempos. A crítica, por sua vez, o classifica como um dos maiores fiascos da indústria fonográfica na  história. De fato, Artpop não é um trabalho totalmente inovador – chega a ser até mesmo “medíocre” (entendedores entenderão o que eu quero dizer com esse adjetivo – claramente, ele não vem como crítica). No entanto, mesmo os fãs mais afoitos deverão admitir que, apesar de toda sua propaganda artística, Artpop é um disco que tenta estar muito próximo à arte – mas essa aproximação só aparece no discurso. Na prática…


Para produzir e promover Artpop, Gaga escalou um time de peso. Entre os produtores, estão nomes como David Guetta (olha a farofa aí, gente!), will.i.am (pegada pop, hein?) e Rick Rubin – só para citar alguns. O artista norte-americano Jeff Koons é quem assina a capa do álbum – onde temos Gaga nua como uma nova Vênus, uma referência à tela clássica de Sandro Botticelli. A ideia por trás de tudo isso? Bom, Gaga pretende levar a arte à cultura pop, aproximar estes dois mundos que, apesar de parecerem próximos, são bem distintos. A pretensão de Gaga aqui é fazer com que o acesso à alta cultura seja mais simples – e, obviamente, nada melhor do que a música pop para fazer isso. No entanto, essa integração entre os dois universos ficou um tanto quanto superficial. Faltou alguma coisa – que você perceberá na primeira audição de Artpop.

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Não que Artpop seja ruim. Dizer isso a essa altura da carreira de um nome como Lady Gaga é, no mínimo, injustiça. Artpop é um álbum bom – se desconsiderarmos seu propósito, obviamente. Na verdade, estamos diante de um claro exemplo de como funciona a cena pop na atualidade: ao longo de 15 faixas, Gaga consegue produzir uma música de qualidade, deixando-a na frente de muitas de suas concorrentes. Aura, que abre o disco, lembra em muito a batida de Daft Punk e tem guitarras simulando o som de cítara – deliciosa. A pegada R&B do conjunto fica por conta das ótimas Sexxx Dreams e Do What U Want – esta última que conta com a participação de R. Kelly, formando um belo dueto.

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Venus, outra bela canção do álbum, vem recheada com um passado oitentista, explicitado pelo uso de sintetizadores. Dope, por sua vez, é a grande baladinha do disco, com seus acordes de  piano e uma bela interpretação vocal da cantora – música que talvez jamais imaginaríamos em um registro como este. Donatella (inspirada na estilista da Versace) tem uma ótima pegada urbana e também é uma grande surpresa do álbum. Menos inspiradora, no entanto, é a própria faixa título, que não chega a empolgar muito – ao menos, os ouvintes mais atentos e críticos.

Como produto final, Artpop é um álbum que mostra exatamente o que Lady Gaga é: uma artista que sabe ser artista. Vamos admitir: Gaga não é uma excelente cantora, não é ótima dançarina, não toca lá essas coisas nem compõe como uma poetisa. Mas como uma boa artista, ela pega tudo aquilo que sabe fazer satisfatoriamente bem e melhora para alcançar um status de “diva cool” que a galera descolada adora. Como muito de seus contemporâneos na música pop, Gaga sabe que imagem nesse mundo é tudo. Nesse propósito, Artpop é muito bom isoladamente, mas que se perde dentro dos rumos que pretende tomar e serve para mostrar que Gaga é uma grande home não apenas no palco – mas, principalmente, fora dele. Este é o grande mérito da cultura pop.

“Take Me Home”: O Repeteco Musical de One Direction

Você olha para a banda One Direction e é impossível não associa-la diretamente às boy-bands da década de 90. Fruto de uma grande jogada das gravadoras para descaradamente vender discos e fazer garotas (e meninos que gostariam de ser garotas) gritarem histericamente, essas boy-bands fizeram sucesso em todo o mundo e criaram uma legião de fãs de música pop. Os garotos do One Direction, talvez hoje o grupo de maior sucesso comercial da música, apresentam seu segundo álbum, o questionável Take Me Home que, aproveitando o sucesso de Up All Night, primeiro registro da banda, tem tido ótimas vendagens – mas nada mais é do que uma seleção de tudo aquilo que já vimos anteriormente.

Capa de "Take Me Home", segundo álbum de estúdio da banda One Direction.

Capa de “Take Me Home”, segundo álbum de estúdio da banda One Direction.

Okay, ninguém aqui poderia esperar um clássico álbum pop para entrar na galeria de grandes discos mundiais. Mas o álbum tem, sim, um grande mérito: mostrar a todos que o One Direction (e todos aqueles por trás da banda, que a fazem caminhar) é esperto o suficiente para permanecer na mesma pegada, o que praticamente garante que os meninos continuem a fazer sucesso durante muito tempo. Resta dúvida? Pois bem, só na primeira semana, Take Me Home teve 540 mil cópias vendidas, estreando no topo da Billboard 200.

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Mas apesar das boas vendas, a unanimidade é certa: o álbum não é nada diferente daquilo que já ouvimos em Up All Night – que já não era um grande disco, diga-se aqui de passagem. Tinha lá sua pegada jovem, com refrões grudentos, letras românticas e batidas contagiantes para promover a festa entre os adolescentes. Take Me Home permanece nisso. Qualquer música de Take Me Home poderia estar em Up All Night e vice-versa. A sensação que sem tem é que se trata de um único material, como se Take Me Home ficasse com tudo aquilo que não coube no primeiro trabalho dos garotos – sensação esta que aumenta quando descobrimos que Take Me Home foi lançado há pouco mais de um ano do disco de estréia dos rapazes. Sacou?

Aí vai ter os chatos que vão criticar e dizer que Take Me Home é ruim. Não é, assim como Up All Night não é. Para sua finalidade, ambos os álbuns são bons e representam bem o pop para o qual foram criados. O que acontece é que Take Me Home não é ousado: é um álbum para os mesmos fãs de One Direction de sempre, não houve aqui uma tentativa sequer de se conquistar um novo público – o que, definitivamente, é uma lástima, já que a banda (dentro daquilo que se propõe) faz um trabalho, no mínimo, decente.

Para começar, temos a dançante Live While You’re Young, primeiro single e carro-chefe do CD – que tem a mesma pegada jovem, para cima, de What Makes You Beautiful, do registro anterior. Depois, temos a baladinha fofa e romântica Little Things, típica música para as meninas caírem aos prantos nos shows da banda – mas que fica nos mesmos acordes durante toda sua duração. Kiss You C’mon, C’mon seguem mantendo o mesmo ritmo entusiasta da música de abertura – e continuam lembrando os singles do primeiro álbum. Daí vem Last First Kiss, mais uma baladinha para fazer a galera se derreter pelos garotos. Heart Attack Rock Me surgem mais agitadas – e com direito a introdução de We Will Rock You nesta última. Daí em diante, poucas músicas merecem destaque, como Over Again, de longe a melhor melodia e a letra aparentemente mais bem trabalhada (definitivamente uma boa música para se ouvir), e They Don’t Know About Us, que lembra bem o som que os Backstreet Boys faziam há alguns anos atrás.

Eles cantam, eles pulam, eles usam roupas coloridas... e as minas piram. Complicado, né?

Eles cantam, eles pulam, eles usam roupas coloridas… e as minas piram. Complicado, né?

Obviamente, já era de esperar que os garotos lançassem algo praticamente fiel a tudo o que já tinham feito no seu álbum de estréia. Há o fato aqui de que tudo que o One Direction faz hoje (de grifes de roupas à biografias) vende e faz rios de dinheiro. Para que mexer em uma fórmula que já é garantida? Faria sentido? Parece que não. E, queira você ou não, este é o tipo de música que faz com que eles continuem tornando em dinheiro tudo aquilo que tocam. Take Me Home não é bom para aumentar a popularidade da banda entre aqueles que desprezam o quinteto, mas é bom o suficiente para deixar o grupo em evidência por mais alguns anos.

Harry Styles, principal nome da banda, é também aquele com maior potencial para uma carreira solo de sucesso. Será que vem aí um novo Justin Timberlake?

Harry Styles, principal nome da banda, é também aquele com maior potencial para uma carreira solo de sucesso. Será que vem aí um novo Justin Timberlake?

Ao menos, Take Me Home serve para confirmar apenas uma coisa: os garotos sabem como fazer bem o que fazem. Se é com a imagem que música pop sobrevive, imagem é o que o quinteto britânico mais utiliza para se manter no topo. Talvez essa necessidade do mercado fonográfico fez com que o álbum fosse praticamente feito às pressas, para aproveitar este momento em que o conjunto ainda é assunto. Mas isso, no entanto, não tira o fato de que os garotos conseguem desempenhar bem seu papel, dentro do propósito da banda. É evidente que alguns ali, quando o grupo acabar tem potencial para seguir carreira solo – leia-se aqui quase que unicamente o vocalista principal Harry Styles, a melhor voz entre eles – o contraste da voz de Harry em comparação às demais na faixa Little Things é gritante. Harry tem tudo para fazer, num futuro próximo, o mesmo que Justin Timberlake fez ao sair de sua boy-band (Harry que foi revelado no programa X-Factor, assim como os outros participantes do conjunto).

No final, Take Me Home é apenas um repeteco de Up All Night. Poderia muito bem levar o título Up All Night – The Lost Songs, pois é justamente isso: uma união de tudo aquilo que consagrou a banda e aparentemente estava por aí jogado. Pois é, acho bom começarmos a acostumar nossos ouvidos com o som do quinteto, pois a julgar pelo sucesso que tem feito, a One Direction ainda tem muito para oferecer aos fãs. Ao menos, muito mais do mesmo…