Analisar hoje A Dança dos Vampiros, de 1967, é uma tarefa complicada. Isso porque esse longa de Roman Polanski percorre dois gêneros: ora é um terror, ora é uma comédia, mas nunca assusta totalmente ou faz rir por completo. Na verdade, A Dança dos Vampiros pode ser encarado muito mais como uma sátira aos filmes de terror de outrora do que um filme necessariamente “sério” – o que não o rebaixa, mas sim o torna um dos melhores exemplares da cultuada e diversificada carreira de Polanski.
A Dança dos Vampiros traz a história de Abronsius, um professor universitário especialista em vampiros, que viaja à Transilvânia (acompanhado de seu fiel e medroso assistente, Alfred) para comprovar a existência desses seres macabros. Na cidade, ao se hospedarem em um estalagem local, eles presenciam o rapto de uma bela jovem, por quem Alfred se apaixona logo de início. Persuadido por seu assistente, Abronsius parte rumo ao castelo do Conde Krolock para tentar resgatar a bela dama.
O tom humorístico de A Dança dos Vampiros concentra-se basicamente nas trapalhadas de Abronsius e Alfred – que o próprio Polanski interpreta com muito empenho. Seu tipo carismático, atrapalhado e “pamonha” talvez tenha inspirado o perfil que, anos mais tarde, Woody Allen imortalizaria em seus filmes. Os demais personagens da vila ou mesmo os tipos vampirescos do castelo são perfeitamente caricatos, garantindo os momentos mais cômicos da película e deixando o longa muito mais divertido.
Na parte técnica, não se pode dizer que o filme possua muitas qualidades louváveis – o que pode ser justificável, sobretudo, pelos recursos da época e pelo próprio tom “pastelão satírico” da produção. No entanto, deve-se destacar a trilha assustadora composta por Krzysztof Komeda – parceiro de longa data de Polanski que mais tarde assinaria também a banda sonora de O Bebê de Rosemary. As tomadas mais extensas de perseguição em meio à neve também demonstram um trabalho de câmera hábil, assim como a cenografia e figurino que explicitavam o perfeccionismo do diretor e justificavam os milhões gastos durante sua produção (especialmente na ótima cena do baile vampiresco, já ao final do filme).
Os produtores decidiram lançar dois filmes: uma versão do diretor e uma versão de estúdio (carregado ainda pelo título The Fearless Vampires Killers, or Pardon Me, But Your Teeth Are in My Neck), o que, obviamente, irritou o artista. No entanto, foi a versão de Polanski que se tornou uma espécie de clássico “cult” nos cinemas de arte e nas universidades norte-americanas. A irritação do cineasta talvez se deva ao fato de que durante muito tempo ele considerou A Dança dos Vampiros como sua melhor obra. Provavelmente, essa paixão exagerada do diretor pelo longa possa ter sido causada pelas boas lembranças que ele tem de sua própria vida pessoal durante o período, quando estava visivelmente apaixonado pela estonteante Sharon Tate – antes dos acontecimentos fatídicos que tornariam a vida de Polanski muito mais sombria do que qualquer trabalho que o cineasta faria em sua carreira.