Filmes sobre amizades parecem ter caído no gosto dos idealizadores do cinema francês. Esta espécie de “subgênero” permite várias abordagens, das simples comédias ou homenagens às pessoas queridas até sátiras sociais e reflexões sobre o caráter humano – afinal de contas, cá entre nós: todo mundo tem aquele grupo de amigos com o qual se reúne uma ou outra vez para dar risada, tomar um café ou apenas trocar ideia. Sobre Amigos, Amor e Vinho é o mais novo título desta safra, um sucesso na França que chegou recentemente às salas nacionais.
No centro da narrativa de Sobre Amigos, Amor e Vinho está Antoine. Sua vida não podia ser melhor: situação financeira estável, uma rotina saudável, um casamento bem estruturado, emprego bem conceituado, muitos e fiéis amigos que o acompanham desde a época da faculdade – enfim, tudo vai bem para o bonitão. Apesar disso, Antoine não está feliz – ou como ele mesmo narra, “está de saco cheio”. Tudo o aborrece. Até que o destino lhe dá uma surpresa: às vésperas de seu aniversário de 50 anos, Antoine sofre um ataque cardíaco enquanto está participando de uma corrida com seus companheiros. Esta visita antecipada e inesperada ao hospital (justamente quando acreditava estar em seu melhor shape) faz com que Antoine reveja sua própria existência e decida mudar suas atitudes – inclusive com relação aos colegas.
A premissa não é necessariamente “original” – essa história do tipo que passa por alguma situação que o faz repensar a vida já é batida. Entretanto, Sobre Amigos, Amor e Vinho se sobressai graças à sua trama bem escrita, que desenvolve suas personagens de maneira tão carismática que, ao final do longa, já nos sentimos íntimos deles, como se fossem nossos próprios conhecidos. Além disso, ainda que algumas figuras sejam caricatas (e certamente já tenham sido vistas em outras produções do gênero), é impossível ao espectador não se identificar com seus dramas. O grupo é variado: Baptiste é o desempregado que quer reatar com a ex-esposa; Laurent passa por problemas financeiros, mas não abandona a pose e nem se abre com ninguém; Yves é o “almofadinha” que se acha o dono da razão; Jean-Michel é o gordinho menosprezado – que só está ali porque conheceu os demais enquanto trabalhava no refeitório da universidade. E claro, o próprio Antoine, o líder da turma que mantém um casamento aparentemente perfeito – mas que é pura fachada.
Os conflitos são causados no momento em que o grupo decide passar as férias em uma isolada casa de verão. É comum ouvirmos que intimidade não é uma coisa muito legal, certo? Aos poucos, a convivência entre eles se torna mais difícil – algo natural, pois com a idade, costumamos ficar mais francos e sinceros e pequenos defeitos alheios que antes aceitávamos com maior facilidade começam a incomodar. Mas também é quando conhecemos quem realmente são nossos amigos, aqueles que podem até se irritar de vez em quando, mas nos aceitarão como somos. É o que acontece naquele círculo: apesar de suas diferenças, eles se amam – e o público sente isso graças ao ótimo desempenho do elenco – especialmente o de Lambert Wilson, nosso protagonista, em um papel mais verossímil do que aquilo estamos habituados a vê-lo e, talvez por isso, seja a grande atração do filme.
Com uma direção segura de Éric Lavaine, Sobre Amigos, Amor e Vinho ainda nos delicia com sua arte impecável, que valoriza a suavidade das cores e uma fotografia que funciona muito bem em sua simplicidade. Apesar do roteiro previsível até certo ponto, ele não se utiliza da piadas escrachadas ou verborragia barata; pelo contrário: com um humor sutil e inserido oportunamente ao longo da projeção, a forma leve como o longa é conduzido faz com que Sobre Amigos, Amor e Vinho seja um filme agradável de se assistir. Portanto, chame os amigos e abra seu coração – só não se esqueça de uma boa garrafa de vinho para acompanhar…
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