1941 – e a Terra está totalmente aquém daquilo descrito nos livros de História. O mundo vive um período “pré-industrial”: o carvão é o principal combustível utilizado e a humanidade está mergulhada em uma era sem grandes inovações – o rádio, a aviação e sequer a eletricidade foram descobertos. A França, ainda presa ao século XIX, é governada por Napoleão V e, assim como em outros países, cientistas desaparecem misteriosamente há mais de 70 anos. Nesse cenário catastrófico, a jovem Abril tenta dar continuidade ao trabalho de seus pais desaparecidos: um soro miraculoso que tornaria o ser humano imortal. Perseguida pela polícia, Abril parte em busca de seus pais na companhia de Darwin, seu gato falante, e Julius, um vigarista por quem a garota irá se apaixonar.
Apesar dos ótimos traços de Jacques Tardi (responsável direto por toda concepção gráfica, de cenário a personagens) e seu diálogo direto com as HQs, o longa dirigido pela dupla estreante Christian Desmares e Franck Ekinck embarca em uma narrativa tão fantástica que chega a ser quase monótona. Embora a premissa seja interessante, a obra não consegue agradar nem crianças (dada sua suposta profundidade) nem adultos (tamanha confusão do argumento). Há uma importante reflexão sobre a importância da ciência para o desenvolvimento humano – afinal, é impossível sobreviver sem o conhecimento. Entretanto, a trama não se mostra tão interessante para suportar seu tema principal e o tal mundo extraordinário passa desapercebido.
É verdade que o cinema francês, nos últimos anos, alcançou um nível de sofisticação muito especial na produção de animações. A escola neste gênero, apesar de bem diferente das norte-americana e japonesa, desenvolveu seu estilo próprio – assim como seus filmes tradicionais, queridíssimos do público – e vem despertando o olhar da crítica. Poderíamos citar aqui títulos como Os 12 Trabalhos de Asterix, As Bicicletas de Belleville, As Aventuras de Azur e Asmar, A Pequena Loja de Suicídios, Ernest e Célestine e mesmo a recente adaptação de O Pequeno Príncipe. Com cartoons próprios e com uma atmosfera mais séria, é um nicho que vem ganhando grande espaço na atual safra de produções francesas. Infelizmente, Abril e o Mundo Extraordinário deixa a desejar, não obtendo tanta relevância neste gênero.
Pingback: Festival Varilux de Cinema Francês 2016: Programação Imperdível no Mês de Junho | Davi Gonçalves