Sangue do Meu Sangue (Sangue del mio Sangue)

Segundo a lei cristã, aquele que tira a própria vida não tem direito ao reino dos céus – logo, a “responsabilidade” pelo suicídio de um padre na cidade de Bobbio, na Itália, em pleno século XVII, recai sobre a freira Benedetta, acusada de ser sua amante. Para impedir que o pároco seja enterrado como um anticristão, seu irmão gêmeo Federico vai até o convento com a missão de fazer com que Benedetta confesse a culpa, mas o jovem também acaba se deixando seduzir pelos encantos da moça.

A princípio, Sangue do Meu Sangue, escrito e dirigido por Marco Bellocchio, não é um filme muito claro, apesar de inquietante. O tom da narrativa é um tanto soturno, melancólico, triste – condizente com a história de amor que chegou a um fim trágico. Ambientado no ápice da dominação cristã, sua temática, no entanto, se mostra incrivelmente atual, ao criticar a influência da Igreja Católica e o machismo de nossa contemporaneidade. O destino de Benedetta foi o mesmo de milhares de mulheres – e, sob certo aspecto, ainda está presente em nossos dias. A cena em que a freira é lançada ao rio para assumir ser uma bruxa é simplesmente arrebatadora e ricamente significativa.

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Entretanto, a partir da segunda metade da fita, a trama muda de cenário e é transportada para os dias atuais, onde um milionário russo pretende adquirir o imóvel que fora o convento de outrora. Lá agora mora uma figura misteriosa, o Conde, um senhor com traços vampirescos que deseja impedir a venda do local, como forma de preservar sua história e os segredos daquele prédio. O filme, então, muda também o seu tom inicial e se torna um tanto confuso, oscilando gêneros como a comédia pastelão e o drama. Entretanto, vale ressaltar que mesmo que esta segunda parte não chegue perto da magnitude da primeira, Sangue do Meu Sangue ainda continua despertando a curiosidade do espectador ao trazer uma nova atmosfera à narrativa e um argumento que, metaforicamente, critica a decadência da Itália, em seus aspectos político, econômico e societário.

Aplaudido de pé no Festival de Veneza, Sangue do Meu Sangue apresenta ainda um desfecho primoroso, que praticamente traduz tudo aquilo que seu idealizador pretende mostrar em poucas imagens. Amparado por uma bela fotografia e uma trilha sonora  bem executada, o longa de Marco Bellocchio consegue transitar com facilidade nas ideias que propõe, além de trazer à tona debates necessários sobre instituições questionáveis – e isso torna o trabalho de Bellocchio altamente apreciável.

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