Mistura de Realismo e Onirismo Permeia “Na Vertical”

Alain Guiraudie é um dos nomes mais “alternativos” – e queridinhos – do atual cenário cinematográfico francês. Na Vertical, seu novo longa, é mais um típico produto de sua filmografia, se assemelhando até certo ponto aos trabalhos anteriores do diretor, O Rei da Volta e Um Estranho no Lago – este último, ovacionado em Cannes em 2013 e em outros festivais mundo afora, escandalizando a todos com suas cenas de nudez e sexo explícito. Com sua já marcada estética naturalista e suas situações pitorescas que beiram o absurdo, Guiraudie aposta suas fichas na história de Léo (Damien Bonnard), um cineasta com dificuldades para finalizar seu próximo roteiro, que, em viagem pelo interior da França, é surpreendido com a chegada inesperada de uma criança.

A estranheza de Na Vertical vai surgindo cena a cena. A princípio, isso se dá já na interação do protagonista com os demais personagens da trama: um idoso rabugento e seu neto malandro (que Léo insiste em tornar ator devido às suas feições); uma mãe solteira que vive com os filhos e o pai esquisitão; ou o mendigo que Léo encontra ocasionalmente pelas ruas. Aos poucos, a “bizarrice” vai se notando ainda mais à medida que os fatos vão se desenrolando. Alguns momentos nonsenses se sobressaem, como uma perseguição de barco em meio a um pântano ou mesmo a – já polêmica – sequência do suicídio assistido. Todos estes eventos ocorrem em meio à uma paisagem rural, captada em planos abertos, lançando quase uma nova França diante dos nossos olhos – afinal, Guiraudie é um dos poucos artistas franceses que filmam hoje fora de Paris.

Na Vertical escorrega, entretanto, na visível falta de foco de seu argumento. Se por um lado Guiraudie volta a tratar sobre a solidão do indivíduo, algumas escolhas não contribuem com aquilo que o artista pretende (ou demonstra querer) abordar. É como se Guiraudie mirasse em todas as direções, mas sem um alvo bem definido – e as inúmeras camadas construídas acabam se perdendo, já que não há conexões muito bem estabelecidas entre elas. Algumas saídas parecem significar algo, quando na verdade pouco dizem, refletindo um vazio na narrativa que só pode, talvez, ser comparado ao de seu protagonista. Apesar do desfecho interessante e cabível, Na Vertical resulta-se um filme que não funciona para todo tipo de público, não apenas por algumas de suas cenas impactantes ou da difícil categorização de seu gênero, mas principalmente por sua tênue linha entre o realismo e onirismo – que, apesar de reforçar o estilo de seu idealizador, está longe de ser totalmente marcante.

Um pensamento sobre “Mistura de Realismo e Onirismo Permeia “Na Vertical”

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