Samuel é um bon vivant que tem a vida que pediu a Deus: trabalha em um resort na França, onde é o responsável por levar os hóspedes para passeios de iates e organizar as festas mais badaladas da região. Tudo vai bem até o dia em que Kristin aparece em seu barco deixando-lhe uma criança que ela alega ser de Samuel. O bonitão, então, parte para Londres em busca da mãe da menina, mas é tarde demais: Kristin sumiu sem deixar notícias. Samuel decide ficar na capital inglesa, onde assume a paternidade e cria um forte laço com a pequena Gloria – que a cada que passa mais alimenta o desejo de conhecer a mãe.
Uma Família de Dois é o remake francês do sucesso mexicano Não Aceitamos Devoluções. Vista por mais de três milhões de pessoas na França, esta versão ganha holofotes com a presença do astro Omar Sy (de Os Intocáveis) e é inegável o quanto o intérprete é carismático em cena. Omar vai da comédia ao drama com total sutileza, o que eleva muito a qualidade do roteiro (que, apesar de apresentar alguns problemas, é tocante na abordagem de seu tema). Hugo Gélin, em seu segundo longa-metragem, não reinventa a roda: sem rodeios, ele é eficiente na condução da trama do personagem que se vê obrigado a mudar seu comportamento ao se deparar com as responsabilidades da vida.
A história ganha muito quando, anos depois, Kristin (a ótima Clémence Poésy) retorna do nada para requerer a guarda da filha. Apesar de o argumento parecer vilanizar esta figura feminina (afinal, para muitos é socialmente “aceitável” que um homem abandone uma criança, mas nunca que uma mulher o faça), é aí que se desenvolve o arco dramático da fita – e as melhores cenas surgem, tanto cômicas quanto tristes. O cineasta nos faz pensar algo durante toda a narrativa, fazendo com que sejamos um tanto surpreendidos com o desfecho deste emocionante filme. Com uma fotografia moderna e cheia de luz e uma trilha sonora seleta, Uma Família de Dois é um longa mais contemporâneo do que nunca, uma vez que ele põe em debate um assunto atualíssimo: a pluralidade do conceito de família. Há até quem possa se incomodar com a falta de equilíbrio entre a comédia e o drama, é verdade – mas isso pouco importa, já que Uma Família de Dois consegue nos levar dos risos às lágrimas de forma tão terna.
Pingback: Prepare o Vinho e o Croissant: Vem Aí o Festival Varilux de Cinema Francês 2017 | Davi Gonçalves