Com o auxílio de um assistente social, a francesa Sylvie viaja até o Uruguai em busca do paradeiro de seu filho Felipe, sequestrado há mais de quatro anos pelo ex-marido. Mas as coisas não saem bem como o planejado: Sylvie percebe que a criança, criada pela avó e pela tia, vive feliz sem a presença da mãe (que Felipe acredita estar morta).
Inspirado em uma história real, O Filho Uruguaio é um drama existencial narrado de forma sensível e delicada, que acompanha a trajetória de uma mãe diante de um questionamento: como lidar com a felicidade do filho sabendo que ela não participa de sua vida? Este dilema nos leva a olhar a maternidade sob um novo ângulo, já que se trata de uma progenitora em um doloroso processo: o de aprender a ser mãe – abordagem esta que torna O Filho Uruguaio um filme de destaque entre outros títulos sobre o tema.
As personagens femininas são fortes. Isabelle Carré entrega uma atuação concisa, de uma mãe à beira do desespero por não saber muito bem como reagir diante de sua nova realidade. Maria Dupláa e Virgínia Méndez são antagonistas interessantes, com histórias muito bem definidas. Há razões para seus atos; o espectador é capaz de sentir o sofrimento dessas mulheres, o que fortifica o arco dramático central – que só é equilibrado através da figura “racional” vivida por Ramzy Bedia, em uma performance sóbria e eficiente, mas que cresce aos poucos, sem “explosões” que comprometam.
A direção sutil de Olivier Peyon é crucial para a trama e é amparada por uma rica fotografia, favorecida pela luz natural de um Uruguai captado com muita suavidade e que retrata a infância do pequeno Felipe com a inocência e simplicidade exigida para tal. Em seus últimos instantes, ocorre o grande clímax – mas algumas lições ficam, como a gratidão e a compreensão. Pelo bem das pessoas que amamos, muitas vezes precisamos abrir mão de certas coisas, o que não necessariamente nos torna fracos mas superiores – ou minimamente humanos.
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