A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty)

No início do século XXI, nenhum acontecimento afetou tanto o mundo como o ataque terrorista aos EUA no dia 11 de setembro de 2001 – e A Hora Mais Escura, novo filme de Kathryn Bigelow, procura esclarecer os questionamentos referentes ao ocorrido.

Dirigido por Bigelow (primeira mulher a faturar um Oscar de melhor direção, em 2006 com Guerra ao Terror), A Hora Mais Escura resume em pouco mais de duas horas e meia os dez anos da busca incansável do governo norte-americano ao criador da rede terrorista Al-Qaeda, Osama Bin Laden – desde os ataques terroristas em 2001 até sua suposta morte, em maio de 2011, em uma operação da CIA. Apesar de ser abertamente ficcional, o longa recria um acontecimento real, quase em um estilo documentário, o que permite que A Hora Mais Escura funcione como um filme de ação não convencional.

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O primeiro debate aqui – e que já levantou inúmeras polêmicas nos EUA – são as cenas de torturas, que seriam utilizadas pelos agentes da CIA para conseguir informações dos terroristas apreendidos. Bigelow foi duramente criticada e rebateu as opiniões de forma simples: o fato de mostrar tortura em seu filme não implica que seja a favor desses métodos (algo como Tarantino em sua obra, sobre a questão da violência exacerbada). Bigelow alega que fazer guerra não é legal e pode trazer inúmeras consequências – mas assumir que seu país pratique tais atos de crueldade mesmo que para conseguir informações que desvendem o paradeiro de seu maior inimigo é, no mínimo, arriscado. Bigelow não poupa nos detalhes – o que rendeu, inclusive, uma intervenção da CIA, que teria se incomodado com as acusações.

Polêmicas à parte, A Hora Mais Escura tem um ritmo agradável. As imagens começam com a tela em preto e os diálogos das vítimas do 11 de setembro – o que causa uma certa aflição e angústia logo de início. Depois disso, a cineasta procura recriar os principais detalhes da operação que teria matado o líder terrorista. É um típico filme de ação, com algumas diferenças. Em A Hora Mais Escura, o inimigo nunca é revelado. Ele é representado apenas através de diálogos e suposições – mesmo na cena final, quando o terrorista é finalmente atingido, Bigelow tem um cuidado para não expor sua figura, apenas insinuar que o mesmo está morto e o objetivo da missão foi alcançado. O inimigo é oculto, mas está ali a todo momento – e o roteiro bem escrito de Mark Boal consegue manter esse suspense durante toda a projeção.

Outro ponto que difere A Hora Mais Escura dos demais produtos do gênero de ação é que tudo é centrado nas ações estratégicas do grupo norte-americano. Poucas são as sequências de tirar o fôlego – que só passam a ganhar “corpo” a partir dos 100 minutos, praticamente. Antes disso, pode até haver quem se incomode com o excesso de informações lançadas ao público. Esses detalhes podem tornar o filme um tanto “massante”, mas contribuem para formar a personagem principal, interpretada por Jessica Chastain (de A Árvore da Vida), inspirada em uma agente real da CIA que teria dedicado anos de sua vida à captura de Bin Laden. Maya (nome fictício) chega a uma base secreta da CIA no Oriente Médio de forma tímida e discreta, mas aos poucos se torna uma das mais importantes peças no jogo, fazendo com que a busca por Bin Laden vire uma missão quase pessoal, para o qual dedicará toda sua vida (e que trará, consequentemente, um certo vazio após o término da jornada). A personagem claramente vai crescendo no decorrer da história e, mesmo que muitos critiquem a indicação de Jessica ao prêmio de melhor atriz, é fato que seu rostinho angelical e suas poucas expressões contribuíram para o personagem.

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Desenrolando quase como um suspense investigativo, A Hora Mais Escura recria ainda a captura de Bin Laden em uma sequência que não te deixa desgrudar os olhos da tela. As imagens indefinidas e esverdeadas (simulando a visão dos soldados na missão) percorrem todos os cômodos do esconderijo do terrorista (uma locação quase do tamanho real do local foi construída para as gravações). Apesar de não trazer cenas de tiroteio ou sequências de ação espetaculares, Bigelow consegue transmitir a tensão da equipe na missão que supostamente culminou com a morte de Osama. E é esta suposição que levanta o maior dos debates, provavelmente. Osama está morto? Há quem duvide disto. Há quem acredite que isso não passou de puro teatro para popularizar ainda mais o então presidente norte-americano, ou para mostrar ao mundo o quão “foda” são os EUA. De qualquer forma, A Hora Mais Escura ousou em levar isso ao cinema. O roteiro, que inicialmente abordaria apenas algumas tentativas falhas do governo norte-americano durante a guerra, sofreu alterações após a notícia da morte do terrorista. De qualquer forma, A Hora Mais Escura funciona como um bom filme de ação e suspense – mas serve principalmente para massagear o ego norte-americano. No melhor estilo “herói contra vilão”, o inimigo é alcançado e o país está a salvo. E isso é tudo que importa.

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