Benh Zeitlin já havia sido elogiado por seu premiado curta Glory at Sea, de 2008. Na obra, o cineasta acompanha a rotina dos moradores de alguns pontos do estado de Louisiana, EUA, após a passagem do furacão Katrinha, que devastou bairros colocando-os debaixo de água. Em Indomável Sonhadora, Benh segue uma premissa semelhante: aqui, acompanhamos os moradores da “Banheira”, uma ilha no meio de uma barragem que fica submersa após a passagem do furacão. Apesar do local ser fictício, ele é claramente inspirado em uma ilha do Estado que a cada dia que passa fica mais transbordada devido às catástrofes naturais.
Assim como os moradores da ilha real, os habitantes da Banheira também se recusam a sair de suas casas. Um desses é Wink, um doente cardíaco e pai da pequena Hushpuppy, a protagonista da história. Ao longo do filme, o pai busca ensinar a garota a sobreviver dentro do cenário caótico em que estão inserido (afinal, o pai tem sabe que, cedo ou tarde, sua doença o levará à morte). Vivendo quase como animais (entre o trailer e a casa destruídos), ambos vivem uma relação ilógica e, muitas vezes, sem sentido, dentro de um ambiente marcado por crendices e imaginações, que são, na verdade, a única forma de resistir à pobreza e precariedade do local.
As reações de Wink e Huchpuppy são inesperadas – como as reações de todos os moradores da região. A relação entre Wink e sua filha é intensa: mesmo nos momentos em que deseja ser carinhoso, o pai (devido às próprias dificuldades da vida) só consegue expor seus sentimentos com brutalidade. Sua forma de amar e expressar seu amor pressupõe preparar sua filha às atrocidades da vida, transformando-a em um ser capaz de vencer as adversidades que ainda estão por vir.
É nessa fábula moderna que surge a figura de Quvenzhané Wallis, a garota que tinha apenas 6 anos quando gravou o longa. Todo o filme é rodado assumindo-se o seu ponto de vista, expondo toda a percepção infantil sobre a realidade que a assola – realidade que, ainda que exagerada em alguns momentos, cria um filme altamente sensorial, onde o melhor a ser feito é abandonar as convenções e as lógicas e se entregar às emoções. Não apenas Wallis atrai os olhares, mas também o ator Dwight Henry, o pai da garota. Ambos são atores de primeira viagem, desconhecidos e sem nenhum treinamento formal – assim como boa parte do elenco. Concorrendo ao Oscar de melhor filme, direção, atriz principal (Wallis é a mais jovem concorrente nessa categoria) e roteiro adaptado (que é assinado pelo próprio diretor em parceria com a autora Lucy Alibar), Indomável Sonhadora é, de longe, um dos melhores filmes desta temporada.
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