Pedalando Com Molière (Alceste à Bicyclette)

A improvável amizade entre dois atores, Serge e Gauthier, é o fio condutor do longa francês Pedalando Com Molière. Por que improvável? Bom, enquanto o primeiro é um ator aposentado, desiludido com o showbiz e que abandonou a agitada vida artística parisiense para viver isolado em uma ilha francesa, o segundo é o protagonista de uma série de TV de sucesso, atuando em um projeto que, apesar de não lhe exigir tanto talento, lhe traz o status de artista mais bem pago do país.

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Parceiros de longa data, Serge e Gauthier conhecem um ao outro como ninguém. Serge, que sofrera uma depressão que o obrigou a fugir dos palcos, vive tranquilo em sua solidão, longe dos holofotes. Sua paz é interrompida quando Gauthier (que agora é um astro da TV) o convida para, juntos, protagonizarem a peça O Misantropo, de Molière. Apesar da recusa inicial, Serge propõe que ambos passem alguns dias ensaiando a cena que abre a obra, revezando-se entre os papéis principais (Alceste e Philinte). Ao final dos ensaios, Serge dará a resposta sobre sua participação na produção – e é a partir deste momento que começa um jogo de poder e manipulação entre os dois amigos.

É justamente este jogo que garante praticamente toda a diversão do longa. A competitividade entre ambos (sempre tentando obter vantagem um sobre o outro) rende boas risadas, tornando Pedalando Com Molière um filme deliciosamente agradável de se assistir. Como todas as comédias de situações, as piadas do filme são extraídas de pequenas coisas (como um passeio de bicicleta ou um acidente em uma banheira de hidromassagem). Além disso, esses intérpretes possuem aspirações pessoais e artísticas diferentes (cada um deles encara a arte sob uma perspectiva) e que são bem exploradas pelo roteiro. Com ótimos diálogos entre os dois colegas (que se amam, se odeiam, se admiram, se abominam), o filme ainda apresenta alguns trechos da obra original de Molière, que são protagonizados pelos dois amigos em uma espécie de disputa artística (e pessoal, por que não?).

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Com uma bela fotografia (resultado do trabalho de Jean-Claude Larrieu), Pedalando Com Molière ainda traz as atuações competentes de Fabrice Luchini e Lambert Wilson (respectivamente, Serge e Gauthier), que estão em ótima sintonia. No entanto, o excesso de tramas paralelas e personagens não muito bem desenvolvidos (como uma atriz pornô sem nenhuma veia artística ou uma italiana em processo de divórcio) faz com que o filme desvie um pouco a atenção do espectador. Problemas de roteiro a parte, o diretor Philippe Le Guay cria uma obra que, diferente das comédias norte-americanas, não se propõe apenas a fazer rir, mas também a fazer pensar. Com um desfecho um tanto quanto “doloroso” e que pega o espectador de surpresa (devido ao tom leve e festivo da trama até então), Pedalando Com Molière é um filme que comprova que nem tudo na vida é tão belo quanto a arte.

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