Frances Ha não tem começo, nem meio, nem fim; tampouco é um filme de gênero definido (não é bem uma comédia, nem um drama, nem um romance). Mas é inegável que o longa dirigido por Noah Baumbach (de A Lula e a Baleia) tem muito a nos dizer.
A protagonista é Frances, um retrato fiel da geração de jovens do início do século XXI. Ela não é a garota mais bonita, nem a mais inteligente, muito menos a mais rica; mas, como todos de sua idade, tem aspirações e sonhos – especificamente, sua maior ambição é a de integrar o time principal de uma companhia de dança onde é assistente e sair em turnê pelo país, dando-lhe melhores condições para viver em Nova York. Mas nem tudo são flores: apesar de almejar o reconhecimento profissional, ela não possui muito talento para tal; além disso, ela já está naquela idade em que, apesar de ainda se sentir jovem, o tempo já dá indícios de que está passando rápido demais e quando menos se esperar… simplesmente passou.
Frances, nossa heroína neste filme excessivamente nova-iorquino, foge um pouco do padrão das mulheres retratadas em Hollywood. Frances é a cara da juventude “problema” da nossa atualidade; uma personagem profunda e cheia de personalidade: positiva, bem humorada, consciente, amiga, fiel. Em certo momento, Frances confessa para Sophie, sua melhor amiga: “somos iguais a duas lésbicas juntas a muito tempo que não fazem mais sexo”. Atrapalhada, Frances em diversos momentos é como uma adolescente: vê tudo ao seu redor e sabe que precisa amadurecer, mas ao mesmo tempo tem medo dos rumos que a vida irá tomar.
Noah optou por trazer uma atmosfera “clássica” para a história – presente não apenas na escolha da fotografia em preto e branco (nos remetendo de imediato a Woody Allen em Manhattan), como também na trilha sonora, que vai do instrumental de Bach, Mozart e Georges Delerue (um dos maiores compositores da nouvelle vague) a hits que incluem Paul McCartney, The Rolling Stones e Harry Nilsson. Aliás, em uma das cenas mais deliciosas do filme, a protagonista (a irresistível Greta Gerwig, em ótima atuação) sai correndo e dançando pelas ruas nova-iorquinas embalada ao som de David Bowie e sua incrível Modern Love. Quer música mais propícia?
Frances Ha é um retrato dos nossos tempos. Não é uma obra-prima que necessite de uma excelente cinematografia (embora seja bem produzido) – mas é uma narrativa sobre as relações humanas no cenário urbano atual. É um filme que analisa aquela fase da vida em que você fica meio perdido entre o que fazer e o que quer fazer. A identificação com Frances é imediata. Frances Ha, mais do que um filme de caráter “cool”, é uma fábula contemporânea sobre crescimento e realização dos sonhos – ou mesmo a necessidade de se assumir que alguns deles deverão ser abandonados.