Concorde você ou não, Gravidade, novo trabalho de Alfonso Cuarón, é um sucesso de público e crítica. Bom, na verdade, esse “concorde você ou não” vem um pouco ao meu encontro. Sempre tive certa aversão a grandes blockbusters ou filmes com muito apelo estético e pouco desenvolvimento (você poderá conferir uma crítica sobre o tema neste link). Mas é quase unanimidade entre os que assistiram ao longa de Cuarón que Gravidade vai aos poucos deixando as salas de cinema ao redor do mundo se consagrando como um dos melhores filmes do ano – e um dos mais elogiados produtos do gênero.
A trama de Gravidade se passa no espaço, na órbita terrestre, onde um grupo de astronautas e cientistas trabalha na instalação de novas peças do telescópio Hubble. Entre eles, estão a doutora Ryan Stone (Sandra Bullock, de quem falaremos adiante…) e o comandante da empreitada, o “boa praça” Matt Kowalsky (George Clooney, mais simpático do que nunca). No entanto, algo inesperado acontece: uma nuvem de detritos espaciais atinge o equipamento principal, deixando Stone e Kowalsky à deriva no meio do nada – na imensidão e escuridão do espaço.
Há quem diga que Gravidade surpreende por conseguir prender a atenção do telespectador ao longo de sua uma hora e meia, ainda que seu roteiro seja bem econômico. Particularmente (e reforço o “particularmente” – já que aqui é questão de gosto mesmo…), a narrativa tem alguns momentos de marasmo. Não que chegue a cansar (seria implicância da minha parte afirmar isso), mas Gravidade possui alguns momentos excelentes com outros medianos – o que não impede que o filme seja bem equilibrado. Esse fato – aliado à curta duração do longa – reforçam a sensação de que tudo se passa rápido e poderia ser estendida (o que Cuarón sabiamente não o fez).
Contando uma história de sobrevivência, Gravidade fica centrado totalmente em Bullock. Sua atuação é louvável: simples, direta, nada exagerado. No decorrer da trama, ficamos atordoados com sua respiração ofegante – praticamente sentindo todo seu desespero ao se ver sozinha, perdida na escuridão e longe de casa. Uma das apostas mais cotadas para o Oscar de melhor atriz no próximo ano, Sandra carrega nas costas uns 80% do filme. Claro que não sentiríamos o desespero de Ryan sem o belíssimo trabalho de câmera que Cuarón faz – utilizando-se de longos planos sem cortes, que saltam de dentro para fora dos capacetes de suas poucas personagens, o que acentua a aflição que nossos protagonistas sentem durante sua viagem.
É aí que entra os efeitos especiais grandiosos. O filme é praticamente quase todo rodado em computação gráfica. Não fiz questão de levantar quanto foi gasto nesses efeitos mirabolantes, mas o fato é que Cuarón ensina como se fazer bom uso de tecnologia – apesar de que o foco aqui é o cinema catarse mesmo, é a imagem puramente lançada na tela. A tensão é elevada ao extremo e a animação empregada é realista. A trilha sonora de Steven Price é inserida nos momentos certos – dando momentos de alta aflição e outros menos silenciosos (mas nem por isso menos aflitivos).
Gravidade é puro cinema espetáculo. E para este fim, é uma produção que funciona muito bem. Ele chega já mostrando para o que veio: impressionar. Apesar dos erros com a realidade espacial (já tem gente utilizando isso para criticar o longa) e o pouco desenvolvimento dado às suas personagens (tem até uma tentativa de drama ao abordar a perda da filha de Ryan, mas que falha miseravelmente…), nada importa se você ficar de olhos abertos durante toda a sua exibição. Cuarón dá uma aula de boa utilização de efeitos visuais e fotografia/edição impecáveis, criando ótimas sequências. Com poucos diálogos, o filme ainda consegue abordar uma história de superação como poucos outros. Ryan é um típico exemplo de personagem que apesar de ter perdido tudo, ainda decide viver – o que faz de Gravidade também uma bela metáfora para os nossos dias.