Toda vez que alguma banda que eu curto (ou um artista que mereça ser comentado) lança um novo álbum, faço questão de fazer minha crítica sobre o novo trabalho. Assim, estava ansioso para vir aqui e falar sobre Imaginary Enemy, o 6º registro do agora quarteto norte-americano The Used que, desde 2001, vem sendo um dos meus artistas preferidos por diversas razões. Longe dos estúdios desde 2012, com o suficiente Vulnerable, a banda de Utah traz ao público um álbum conceitual, denso e equilibrado, representando provavelmente um dos melhores momentos do grupo nos últimos anos.
Imaginary Enemy começa com força total com a batida enérgica de Revolution. A música abre em off com a frase “Todas as revoluções são impossíveis até que elas aconteçam; então, elas se tornam inevitáveis.”, entregando muito do propósito do álbum. Com vocais potentes de Bert McCracken, Revolution é uma das mais gratas surpresas da banda em anos. Em seguida, temos Cry, carro chefe do disco – que até já ganhou clipe. Com a ótima performance de Jeph Howard no baixo, a música serve, porém, apenas como canção para se postar nas redes sociais como indireta a algum ex, sendo uma das mais dispensáveis do álbum.
Após um início agitado, temos El-Oh-Vee-El, onde a banda faz uma espécie de crítica ao sistema capitalista que rege a nação mundial, soltando aos quatro ventos que “tudo o que precisamos é L-O-V-E”. A música, que começa de forma bem morna, acaba crescendo ao longo de sua execução e possui uma bela melodia, carregada com a guitarra já conhecida do excelente Quinn Allman. Segue-se com A Song To Stifle Imperial Progression (A Work in Progress), ótima faixa que possui, de longe, uma das melhores letras do disco. Enquanto pede a benção de Deus aos EUA, a banda também afirma que “ao declarar guerra ao terror, você declara guerra a si mesmo“. Em seguida, Generation Throwaway abre com seu refrão recheado de vozes declarando que “tudo fica bem quando eu não tenho medo da glória“, um verdadeiro hino que me lembra, vagamente, alguma coisa que o trio Green Day fez em seu elogiado American Idiot.
Make Believe é mais um hino que tende a agradar os novos fãs – um ótimo momento com um belíssimo refrão. Com sua batida leve e que melhor representa o lado “bonzinho” dos caras, temos Evolution, precedendo a faixa título, Imaginary Enemy. Longe de ser a melhor música do conjunto, a canção tem uma batida dançante e rápida, lembrando um pouco o estilo de seus amigos do Panic! At The Disco em seu primeiro trabalho (exceto pelos vocais de Bert), mas muito menos cru. Kenna Song, com sua bateria eletrônica, é mais uma das faixas ao estilo “bom moço” da banda. Fechando o álbum, temos Force Without Violence (com sua excelente letra e que representa bem o contexto de todo o projeto) e, finalmente, Overdose, a faixa “fofa” que pode facilmente ser utilizada na trilha sonora de algum filme teen.
Produzido por John Feldman, Imaginary Enemy é, de longe, o registro mais “completo” da banda até hoje. Depois de uma sequência de álbuns bons mas sem muita alma e mornos o suficiente para serem facilmente desprezados(Artwork e Vulnerable), o grupo consegue criar seu American Idiot particular, inserindo letras de impacto dentro de um estilo que aos poucos Bert e seus companheiros vem lutando para impor a seus fãs – uma vez que, vamos admitir, eles dificilmente voltarão a fazer algo musicalmente grandioso quanto A Box Full of Sharp Objects, Maybe Memories ou Poetic Tragedy. É um fato que os rapazes sempre flertaram com um lado mais “mamão com açúcar” – vide composições como Blue and Yellow, I Caught Fire ou Buried Myself Alive, hinos que consagraram a banda e a tornaram tão querida entre seus fãs.
Mas é um fato também que muita coisa mudou de 2001 para cá e a banda amadureceu. Recentemente, o vocalista Bert (conhecido por suas extravagâncias do início de carreira) assumiu viver uma vida mais “limpa”, longe do álcool e das drogas. Isso refletiu em uma mudança explícita em sua voz e também no comportamento dos rapazes em seus shows. Imaginary Enemy é um registro honesto de um artista que nunca se preocupou tanto em permanecer no mainstream, mas sim em fazer um som que considere bom – isso tanto é verdade que o instrumental continua impecável: enquanto Bert não faça as mesmas firulas dos anos iniciais (mas segurando o suficiente o vocal sem desafinar, como muitos vocalistas por aí…), Jeph segue com seu contrabaixo impecável, enquanto Quinn sozinho é capaz de tocar quantas guitarras quiser sem fazer muito esforço. Ainda que muitos fãs clamem por uma volta aos velhos tempos, Imaginary Enemy é uma prova de que a banda mesmo mudando ainda se renova. Apesar da segunda metade do álbum não ter a mesma força que a primeira parte, Imaginary Enemy se sobressai como o melhor disco do grupo em anos – uma contundente resposta às críticas, uma surpresa agradável aos fãs e o melhor exemplo da vitória da banda sobre todos os seus inimigos imaginários e reais.