A Recompensa (Dom Hemingway)

A Recompensa não é um filme de ação, aventura, drama, comédia ou qualquer outro gênero cinematográfico bem definido. É a história de um único personagem. No caso, trata-se Dom Hemingway, um famoso arrombador de cofres que após 12 anos de prisão, é solto e busca sua “recompensa” por não ter delatado seus comparsas. Nessa empreitada, entre altos e baixos, Dom tenta também se reconciliar com a filha – já que perdera sua mulher com câncer enquanto estava na cadeia.

Apesar de o título brasileiro ser condizente com a proposta do filme, o título original (Dom Hemingway) é o que mais reflete a necessidade de autoafirmação do personagem principal. Dom é um sujeito egocêntrico, explosivo (por vezes, violento) e sem o menor tipo de refinamento – mas com estima suficiente para se autoproclamar “o melhor arrombador de cofres de Londres”. Isso fica claro já na cena inicial do longa, um monólogo de três minutos, onde Hemingway recita uma verdadeira ode a seu pênis (comparando-o a obras de arte de Picasso a Renoir) enquanto recebe sexo oral de outro homem. Talvez essa arrogância e prepotência da personagem se deve ao fato de que Dom parece não se dar conta de que, após mais de uma década enclausurado, os tempos mudaram. Não existe mais ética entre criminosos, cumplicidade ou mesmo gratidão – e esta é uma nova realidade que Hemingway deverá encarar.

01

Law é a escolha perfeita no papel principal. É uma das melhores atuações de sua carreira: insano, exagerado e verborrágico, o ator está totalmente de acordo com a proposta do filme, com um controle total das cenas. Richard E. Grant também tem um ótimo desempenho no papel de Dickie, o companheiro de Dom e totalmente oposto ao personagem título – nas ações e temperamento, o que traz justamente as melhores linhas cômicas do longa.

No entanto, A Recompensa não consegue ir além de um filme mediano – e há alguns elementos que evidenciam isso. A trilha sonora (com músicas do Motörhead, Pixies, entre outros artistas) não é totalmente bem explorada, já que surge ou desaparece em momentos muito aleatórios – e isso contribui muito com o ritmo da trama. Falta ainda um roteiro mais estruturado: embora a ideia seja boa, é nítido sua inconsistência, principalmente a partir da segunda metade do longa, quando repentinamente o foco narrativo passa a ser as tentativas de Dom em se aproximar da filha. Embora possua uma constituição visual suficientemente bem elaborada, temos a impressão de que o filme poderia ser melhor em mãos mais experientes, já que a direção de Richard Shepard claramente não dá conta do recado. Infelizmente, A Recompensa é uma produção cujo protagonista é maior do que o próprio filme.

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.