É dia dos namorados – e o bistrô Romantique prepara um jantar com cardápio exclusivo apenas para casais. Comandado pelos irmãos Ângelo e Pascaline (o primeiro, o chefe de cozinha; a segunda cuida das demais tarefas), o aconchegante estabelecimento abre suas portas nesta noite especial para o público mais variado – e conforme os pratos são servidos, ficamos conhecendo um pouco mais dos dramas e histórias de alguns de seus clientes.
Bistrô Romantique, filme de estreia do cineasta belga Joël Vanhoebrouck, se passa em um curto período de tempo (da abertura do restaurante até seu fechamento). Dividido em capítulos (que são apresentados conforme o cardápio avança), o longa convida o espectador a refletir sobre, praticamente, todas as fases de um relacionamento – da magia do primeiro encontro ao desgaste inevitável de uma relação com o passar dos anos – , sob os ângulos de personagens distintos. No entanto, a divisão em capítulos não é utilizada aqui para a desconstrução de um fio dramático especifico, mas serve para dar uma espécie de pausa no ritmo da narrativa – talvez justamente para propiciar ao espectador um tempo para refletir sobre aquilo que vê em cena.
A direção de Vanhoebrouck, para um estreante, é firme e concisa. O cineasta conduz bem suas personagens ao longo do filme, intercalando propositalmente as histórias – o que enriquece as reflexões sobre os diversos dramas, além de tirar o foco dos personagens no exato momento em que eles já podem cansar o espectador. Por sua vez, o aconchego do restaurante fica efetivamente acentuado com a boa fotografia, quase em tom sépia (um resultado do excelente cuidado cenográfico e de iluminação) e também pelo bom trabalho de câmera, que ora opta por movimentos mais extensos, ora aposta em closes que aumentam a sensação de intimidade sugerida pela trama.
É possível se sensibilizar com os diversos dramas de cada um dos protagonistas – digo “protagonistas” porque cada um vive sua história, seu momento, isoladamente – , seja a mulher que abandonou seus sonhos por conta da família, a suicida que foi abandonada pelo marido, o esquizofrênico romântico ou o casal em crise familiar. A única escorregada fica com alguns personagens “orelhas” (que apenas populam o ambiente e não trazem nenhuma contribuição significativa ao andamento da história), que acabam soando deveras alegóricos, como o casal homossexual, os namorados em começo de relação ou o homem mais velho que tenta impressionar uma mulher mais jovem – e se aproveita de determinada situação para sair sem pagar.
Bistrô Romantique oscila bem o drama e a comédia – com uma leve propensão para o primeiro. Seja como for, trata-se de um curioso caso de cinema que, com uma ideia simples, porém bem executada, se torna um bom entretenimento – além de produzir debates que podem render muito mais do que uma boa refeição. Com um cardápio variado de personagens (e suas respectivas histórias), Bistrô Romantique peca, talvez, no desfecho de sua protagonista – previsível e moralista, mas que não deixa de conotar certo descontentamento com a vida ao abrirmos mãos de nossa felicidade em detrimento de nossas responsabilidades – o que muitas vezes é uma realidade (como se deixássemos de comer algo “prazeroso” porque é prejudicial a nossa saúde, por exemplo). Mas isso não estraga ou diminui Bistrô Romantique – um filme que pode ser degustado sem preocupação, pois além de delicioso faz muito bem.