Mapas Para as Estrelas (Maps to the Stars)

Não sou um conhecedor do cinema de David Cronenberg. Para ser bastante honesto, meu único contato com sua obra foi em Cosmópolis, um filme enfadonho, cansativo, sem pé nem cabeça e que me irritou profundamente. Exatamente por isso (e por não ter conhecimento de sua filmografia), a única coisa que me chamou a atenção em Mapas Para as Estrelas é a presença de Julianne Moore – atriz por quem nutro uma admiração ímpar. Mas, frustrando minhas expectativas, me deparei com uma fita bastante singular e que, dentro de sua proposta, me agradou e me fez repensar meus conceitos sobre o diretor.

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Tudo bem, Mapas Para as Estrelas não é um primor cinematográfico – tampouco é a obra-prima de seu idealizador, pelo que tenho reparado nas críticas que busquei. Pelo contrário: tem alguns que o consideram até mesmo um filme “fraco” na carreira de Cronenberg. Na trama, somos transportados a uma Hollywood quase surreal (para alguns, “nua e crua” – aliás, vi esses adjetivos em quase todos os textos que li sobre a obra, mas acredito que esteja bastante longe disto), onde somos apresentados a alguns personagens icônicos: temos um ator mirim em ascensão que está voltando da reabilitação; uma atriz de meia idade em decadência, cuja carreira sobrevive apenas de glórias passadas e escândalos atuais; um psicólogo que fez fortuna com livros de autoajuda e sua esposa, que passa a maior parte do tempo cuidando da carreira do filho; um motorista de limusine que tenta a sorte como ator; e, ligando todos estes tipos, uma jovem distante de todo este universo, que chega a Los Angeles trazendo nas malas um mistério que pode afetar a vida de todos.

As tramas destes personagens se desenvolvem em meio a histórias de sexo, fantasmas, loucura – em uma mistura frenética e inusitada que cai como uma luva para a Hollywood tão decadente de Cronenberg. Sua visão do mundo das celebridades é avassaladora, mostrando toda perversão e crueldade de uma realidade que é desconhecida para muitos. O cineasta não economiza no choque: é como se qualquer situação, por mais comum que seja, tome proporções gigantescas. O excesso é simplesmente natural, já faz parte da vida de cada um dos personagens, que vivem em um eterno clima de tensão e círculo vicioso: todos se conhecem e possuem, a seu modo, os mesmos problemas – até, obviamente, a chegada de Agatha, a garota misteriosa a quem nos referimos anteriormente.

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A atuação do elenco em Mapas Para as Estrelas é, no mínimo, extraordinária. Já de cara, digo: Julianne Moore toma o filme para si. Por mais que os demais se esforcem, é Julianne que atrai os holofotes a cada aparição. Arrisco dizer que esta seja sua melhor performance em anos. Moore consegue ser atordoante em cena e mesmo fazendo um tipo arrogante, o espectador é capaz de torcer por ela (sua personagem é uma atriz que não consegue lidar muito bem com a idade e com os fantasmas do passado, que inclui a morte da mãe em um incêndio). Mia Wasikowska há muito se desvencilhou de sua apática Alice burtoniana e já pode ser considerada uma das melhores intérpretes de sua geração. Mia cresce gradualmente no decorrer da fita, sendo a responsável pelo grande clímax da história e pelo desfecho lírico. Outro destaque fica com Evan Bird, que agarrou bem a responsabilidade de viver uma celebridade adolescente em crise, com todas suas irritações causadas, sobretudo, pelas privações que deve enfrentar.

Com uma trilha sonora confusa e atordoante, montagem vaga em certos momentos e fotografia pontual, Mapas Para as Estrelas é um filme onde se consegue ver o desejo do diretor em chocar o público e pronto. O mundo nefasto das celebridades é visto aqui sob uma ótica que preza pela “estranheza”, pelo “anormal”. pelo “repulsivo”. Mapas Para as Estrelas não é uma pérola do cinema, mas perturba, incomoda, constrange, enoja e é indigesto mesmo horas depois que o assistimos.

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