Repressão nas Areias em “O Dançarino do Deserto”

O Dançarino do Deserto é a biografia de Afshin Ghaffarian, um iraniano que convence seus colegas de faculdade a montar uma companhia de dança clandestina (uma vez que este tipo de manifestação artística é proibida em seu país). Enquanto luta contra a opressão de um governo que está às portas de um tumultuado período de eleição, Afshin encoraja seus amigos a se apresentarem – e também vela por sua namorada, uma jovem usuária de drogas que tenta inutilmente vencer o seu vício.

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Particularmente, eu tenho certa aversão a produções que envolvam a dança como tema principal (apesar de admirar muito esta expressão artística). No entanto, para alem de utilizar a dança como instrumento narrativo, O Dançarino do Deserto se faz cativar por tratar a arte como fonte de libertação do sofrimento causado pela dor, angústia, medo e repressão. Ambientado em Teerã, no período das conturbadas eleições presidenciais de 2009, o diretor estreante Richard Raymond nos revela a arte como elemento indispensável de resistência – através dela, é possível se rebelar, soltar a voz e clamar por justiça, igualdade e liberdade. Ela funciona aqui como uma ferramenta de inclusão política – ainda que forças externas tentem a combater.

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Infelizmente, o cineasta escorrega na busca de soluções não totalmente previsíveis, mas fáceis – exagerando o tom melodramático da fita e deixando-a com cara de novelão mexicano. Talvez essa “limitação” possa ser causada por se tratar de uma história “real”, talvez o roteirista Jon Croker (cujo currículo não tem nada mais expressivo do que A Mulher de Preto 2: Anjo da Morte – o que não é nenhum ponto muito favorável no currículo) quisesse transcrever exatamente como tudo aconteceu – inclusive o próprio Afshin teria trabalhado em conjunto com Croker. O fato é que O Dançarino do Deserto possui boas cenas – a apresentação em meio às areias do deserto são curiosamente interessantes, assim como o desfecho da narrativa – , mas é impossível se apaixonar tanto pela obra. O Dançarino do Deserto pode até servir como uma referência a inevitáveis debates sobre o tema, mas nunca uma excelente experiência cinematográfica.

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