Cidades de Papel (Paper Towns)

Ainda criança, Quentin se apaixonou à primeira vista por Margo, sua nova vizinha – com quem criou um forte laço de amizade. Apesar das claras diferenças entre eles, os dois amigos eram inseparáveis e passaram a infância praticamente juntos. No entanto, a adolescência não foi tão favorável: aos poucos, os antigos melhores amigos foram se afastando, criando novas amizades e tornando-se quase estranhos um para o outro. Às vésperas do fim do colégio, os dois se reaproximam por uma noite – enchendo Quentin de esperança, já que o garoto jamais esqueceu seu primeiro e único amor.

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Cidades de Papel é baseado no romance homônimo de John Green, mesmo autor de A Culpa é das Estrelas – um dramalhão água com açúcar que levou milhares de adolescentes às salas de cinema no ano passado e promoveu (para variar) a velha discussão sobre as adaptações de textos literárias para as telonas. Green, de fato, sabe como conversar com essa geração; o talento do escritor é inegável e o sucesso de sua obra está aí para comprovar (tanto que as produções de outros de seus títulos já foram anunciadas). Entretanto, irei concentrar minha crítica ao filme individualmente e não ao livro que o originou – e neste aspecto, Cidades de Papel não é lá um grande feito.

Há alguns motivos que impedem que Cidades de Papel seja um filme necessário, mas antes de tudo vale dizer que a ideia não é nova nem a forma como ela foi desenvolvida. É uma típica produção voltada ao público juvenil, com aquela abordagem repleta de sensibilidade para criar uma atmosfera “fofa” e até mesmo nostálgica. Tudo bem, o longa até consegue isso em algumas raras ocasiões, mas (sem querer levantar comparações) é um fato que o espectador tem na memória a imagem muito forte de As Vantagens de Ser Invisível – um drama praticamente unânime. Em alguns momentos, é impossível não associar os dois longas. Acompanhe: um protagonista tímido que tem uma paixão platônica por uma moça explosiva; os amigos que lamentam a fatídica separação; os bailes do colégio (com direito até mesmo a cena de dança descolada).

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Por mais que o público não queira associar, chega um instante em que a história quase pede isso – e quando o espectador é capaz de esquecer um pouco o “concorrente”, aparece o segundo problema de Cidades de Papel: o argumento. Apesar de começar bem e você até sentir que a narrativa vai decolar, o filme mergulha em uma busca sem sentido do nosso protagonista por Margo – e quanto mais ele avança, mais Cidades de Papel perde o charme, ficando quase desinteressante. Com algumas sequências que nos remetem quase a um road movie teen, a obsessão de Quentin por Margo não é crível e é aí que outras subtramas vão surgindo, junto com os estereótipos (um adolescente virgem dizendo que pegou todas, a loura gostosa, o colega nerd que nunca fez nenhuma loucura), alguns ali apenas para preencher o roteiro porque não acrescentam absolutamente nada ao conjunto da obra.

Tecnicamente bem feito, Cidades de Papel poderia se sair melhor se deixasse de lado a história entre Quentin e Margo (um tipo sem o menor atrativo – e por isso fica difícil entender o fascínio de Quentin por ela) e se aprofundasse mais nos dramas do grupo de amigos. Talvez a completa falta de química entre Cara Delevingne e Nat Wolff contribuiu para que este casal não seja tão memorável quanto os personagens de Logan Lerman e Emma Watson, apesar do bom desempenho de Wolff – tanto que o ator e seus companheiros se saem muito bem juntos, mostrando bastante sintonia (há cenas que parecem ser tiradas dos bastidores). O filme até se sai bem em alguns trechos de humor e com algumas referências à cultura pop, mas se perde na falta de profundidade onde realmente valia a pena. Talvez devesse ser vendido (e se desenvolvido) como uma celebração à amizade e à juventude – e não um romance adolescente barato. Dessa forma, fica a sensação de que alguma coisa faltou, apesar de Cidades de Papel não ser um desperdício. É apenas menor do que aquilo que tenta ser.

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