Capital Humano (Il Capitale Umano)

01Na sequência inicial de Capital Humano, já se estabelece o conflito que será desenvolvido no decorrer de toda a narrativa: um trabalhador comum é atropelado à beira da estrada ao voltar para casa à noite e é abandonado pelo motorista responsável pelo acidente. A partir daí, vamos revisitar a história sob a perspectiva de três personagens distintos: Dino, um agente imobiliário que busca ascensão social, hipotecando sua casa para conseguir dinheiro e aplicá-lo em um fundo de investimento de alto risco; Carla, a esposa que vive às custas do marido milionário e que não dá a mínima para a mulher; e Serena, uma adolescente que, apesar de estar apaixonada por um garoto sem muitas perspectivas, vive um namoro de fachada com Massi, filho rico e mimado de Carla que sofre com o desprezo e pressão do pai.

Com um roteiro surpreendente e que não deixa o público desgrudar os olhos da tela com suas ótimas reviravoltas, Capital Humano conta uma mesma história, mas sob olhares distintos. Dividido em capítulos, cada um deles apresenta suas versões do fato, mas todos se complementam, formando um inteligente quebra-cabeça. A trama, que se inicia com certo apelo tragicômico, vai aos poucos criando um clima de suspense interessante à medida que as situações vão sendo dissecadas. Além disso, as atuações são muito acima da média e o cineasta Paolo Virzì sabe como explorar seu elenco da melhor maneira possível. Fabrizio Bentivoglio é grandioso na pele do “malandro, mas não tanto assim” Dino, que fica desolado após descobrir que perdeu todo o dinheiro investido. A bela Valeria Bruni Tedeschi desperta bastante compaixão como Carla, uma personagem desajustada e perdida que não sabe muito bem qual é o seu lugar no mundo, estando sempre à sombra do esposo Giovanni Bernaschi, vivido por Fabrizio Gifuni – de longe, uma das melhores performances da película. Frio, preconceituoso e arrogante, seu tipo é a perfeita definição do “modo capitalista de ser”.

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Há quem diga que Capital Humano critica a decadência da Itália contemporânea – uma nação com ares de arrogância, pretensão, sarcasmo. Acredito que Capital Humano vá um pouco mais além. Em menor ou maior escala, o filme se estende à figura humana como um todo e disserta sobre o desajuste social e a decadência das relações humanas, que hoje são movidas por interesse e ambições, apenas isso. Todos querem pensar apenas no melhor para si, nem que para isso muitos valores morais simples sejam desprezados – e aí, chantagens, favores pessoais, jogos de poder acabam sendo utilizados como uma espécie de moeda de troca. Algo do tipo “não me importo em estar ao seu lado, contanto que isso seja vantajoso para mim”. A pergunta que fica é qual o valor da vida humana nesta sociedade. Tecnicamente impecável (seja na fotografia que preza os contrastes de cores ou na requintada trilha sonora), Capital Humano é um soco bem no meio do estômago do espectador – mas é uma dor que vale a pena encarar para que possamos refletir mais tarde.

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