A menos que você não acompanhe nada de música, será difícil você ainda não ter ouvido falar em Troye Sivan – cantor sul-africano (mas que reside na Austrália) e oriundo da geração vlogger que vem chamando a atenção da crítica especializada. Após uma série de EPs bem sucedidos, chega às lojas o seu disco de estreia Blue Neighbourhood – um trabalho que, apesar de não conter nada excepcionalmente novo, atesta o talento do jovem artista de apenas 20 anos.
E quando digo que Blue Neighbourhood não traz nada relativamente inédito não estou sendo desfavorável ao álbum. É apenas uma constatação. A verdade é que Troye, como intérprete, é consideravelmente muito bom. Com voz delicada e bastante suavidade nos vocais (e isso empresta certa melancolia às suas interpretações), o garoto não poderia passar despercebido por onde fosse. Não à toa, seus singles são sucesso – o que revela as sábias escolhas de sua equipe.
Apesar disso, no entanto, Blue Neighbourhood não inova – e pior: não se arrisca. Ao longo de suas 16 músicas (da versão deluxe), o ouvinte tem a impressão de que tudo é, na verdade, uma grande faixa subdividida pois todas elas tem, aparentemente, a mesma “cara”, quase o mesmo “formato” e “batida”. Recorrendo a pegada mais eletropop, são poucas as canções que se destacam das demais – veja bem, não estou dizendo que por essa razão elas sejam ruins; pelo contrário: as faixas são muito bem produzidas e interpretadas, mas musicalmente são muito próximas, explorando pouco as letras compostas pelo garoto. Talvez isso possa até criar uma identidade ao trabalho de Troye – mas há quem possa se sentir um pouco frustrado.
De cara, os melhores momentos do disco ficam por conta de Wild, Fools e Talk Me Down – músicas que já ganharam vídeos e formam, nesta ordem, a trilogia Blue Neighbourhood. Nela, Troye conta a história de dois amigos de infância que acabam se apaixonando e tendo um relacionamento conturbado (uma espécie de “biografia” do próprio Troye, homossexual assumido). Mas há outras boas seleções no álbum, como Youth, onde o eu lírico disserta sobre as diversas possibilidades de seu amor, ou The Quiet, com seu instrumental caprichado. Há também espaço para algumas baladas interessantes, como a nostálgica Cool ou a romântica for him.. Suburbia também tem seu lugar, bem como Too Good (com arranjos de piano e cordas discretas) e Ease. Heaven, por sua vez uma parceria com Betty Who, é, de longe, uma das mais incríveis canções do disco – e relata quando Troye descobre a sua sexualidade.
Como um todo, Blue Neighbourhood representa um bom debut para um artista que tem tudo para crescer ainda mais na indústria fonográfica, que com a atual falta de criatividade e o advento da internet, vem sofrendo uma crise sem precedentes. Troye, como muitos outros youtubers, criou sua fanbase na internet – e isso é ótimo, pois abre oportunidades a todos. Mas a realidade é que são poucos que merecem realmente ser observados de perto – e Troye está nesta lista. Com muito potencial, o cantor já é queridinho do público. É esperar pra ver seus próximos passos e torcer para que ele amadureça e perceba logo tudo o que pode fazer na música.