O ponto de vista de Cinco Graças se dá a partir de Lale, a caçula de cinco irmãs órfãs, que moram com a avó e tio em um pacato vilarejo turco, afastado da capital Istambul. Em uma manhã, ao sair da escola para comemorar o início das férias com os garotos da região, as meninas acabam provocando um pequeno “escândalo” naquela comunidade. A família decide, então, mantê-las sob rédea curta, impondo sobre elas os costumes mais conservadores de sua religião e preparando-as para o casamento, ainda que precocemente.
Talvez Cinco Graças possa não parecer tão significativo para nós, da cultura ocidental – mas em países com regimes religiosos mais conservadores, a proposta se abrange de maneira contundente (apesar que, a meu ver, o Brasil parece ter regredido cinco décadas nos últimos anos). Cinco Graças é um filme que traz à luz um debate profundo sobre a opressão sofrida pelas mulheres – não apenas na Turquia, mas em muitos lugares do mundo. Infelizmente, para alguns, ser mulher se reduz apenas a “ser esposa”, “ser dona de casa” – e nada mais. Para além disso, Cinco Graças também promove uma reflexão aguda acerca da influência de crenças religiosas em nossa sociedade. Embora algumas tradições ligadas à religião estejam cada vez mais presentes no nosso cotidiano, é interessante notar que nossa geração está inserida em um novo “modelo” de mundo. Dizer “não” simplesmente não basta; é preciso ter argumentos para que não haja contestação – e as cinco protagonistas dessa história são retratadas aqui exatamente com este perfil questionador, contestador (o que acaba por gerar os grandes conflitos da trama).
Mas talvez a maior reflexão de Cinco Graças se dê ao mostrar o quanto a transição da infância para a fase adolescente pode ser difícil, cruel, dolorosa. Crescer não é fácil – e é aqui que Cinco Graças nos oferece um pouco dos excessos da rebeldia juvenil, apostando no talento de seu jovem elenco, que entrega atuações naturais e consistentes. Deixando de lado o happy ending, Cinco Graças é um filme que fala sobre liberdade de forma bastante sensível, o que nos permite discutir, refletir e, quem sabe, até mesmo mudar um pouco nossos conceitos a respeito da situação de nossas mulheres no cenário contemporâneo.