Década de 40. Erna é uma estudante de filosofia que vive com o marido Heldur e a filha em uma propriedade no campo na Estônia, até o país ser invadido por Stalin. Heldur é mandado para a prisão, enquanto Erna e a criança são enviadas para uma fazenda de trabalhos forçados, onde a muito custo tentam sobreviver com o pouco que lhes é oferecido.
Filmes sobre este odioso período da humanidade são inesgotáveis e isso não é muito difícil de entender: os horrores cometidos durante a Segunda Guerra Mundial foram inúmeros, infelizmente. Na Ventania é um poderoso relato sobre a deportação em massa para a Sibéria, contada a partir das memórias de Erna, através de uma suposta troca de cartas que o casal efetuava. No entanto, estas correspondências estão longe de estabelecer um colóquio direto entre seus interlocutores, uma vez que as cartas entres eles jamais chegam ao seu destinatário. O que o roteiro de Na Ventania nos apresenta são fragmentos de histórias e lembranças desses dois protagonistas, descrevendo suas emoções, sentimentos e experiências vividas na ocasião.
Com uma exuberante fotografia em preto e branco, o diretor estreante Martti Helde descontrói a tradicional narrativa cinematográfica em movimento, optando por planos estáticos – os chamados tableaux vivants. O momento observado é congelado na tela e a câmera percorre suas lentes vagarosamente entre as personagens paralisadas – como se os atores fossem estátuas. Os planos fechados aos poucos se abrem, englobando detalhes sutis de cada cena, em planos sequências executados com total destreza. Salvo o vento que movimenta algumas peças ou o piscar de olhos de alguns poucos intérpretes, tudo nos leva a acreditar que estamos diante de uma representação fotográfica comum. Fora do nosso campo de visão, é o som ambiente e algumas vozes que dão maior fluidez à trama – nos proporcionando uma experiência sensorial única.
Esteticamente impecável, Na Ventania não é, por sua vez, um filme fácil. Seu argumento, bem como a forma como é narrado, foge do comum e isso pode causar estranheza ao espectador “comum”, digamos assim. Com uma linguagem de puro lirismo, poética e melancolia e uma trilha sonora arrebatadora, Na Ventania traz à tona um drama histórico que nos permite enxergar com maior sensibilidade o holocausto, se traduzindo assim em uma obra inigualável.