Bikini Moon (Bikini)

Perturbadora, inquieta, sarcástica, sedutora, imprevisível – é impossível ficar indiferente a uma figura como Bikini quando esta surge entre a multidão. Afinal, quem é ela? O que faz? Até onde podemos confiar em uma pessoa da qual não sabemos o que esperar? Não é de se espantar que a jovem moradora de rua e ex-fuzileira naval desperte a atenção de um grupo de cinegrafistas que decide torna-la protagonista de um documentário.

Bikini Moon é um “filme dentro do filme”. Revestido com a premissa de um falso documentário, (um gênero que, aparentemente, tem o intuito de revelar apenas a verdade), o longa-metragem de Milcho Manchevski lança em suas entrelinhas um questionamento: até que ponto o público é manipulado pela mídia? Mais ainda: como ocorre nossa percepção do mundo através da ótica midiática? Tudo o que vemos nos documentários, jornais, reality shows é real?

Para tanto, a estrutura de Bikini Moon se desenvolve sob os olhares da equipe de cinegrafistas e também de sua protagonista – um personagem genuinamente tão interessante quanto o é bem construído. Condola Rashad tem um desempenho absurdamente incrível, fazendo de Bikini um tipo cheio de nuances. Doce, porém violenta; calma, mas explosiva; emotiva e ao mesmo tempo racional. Suas dualidades são evidentemente contrastadas nos gestos, no andar desinibido, nos risos soltos de uma mulher que, apesar de evidentes problemas psiquiátricos, mantém um certo nível de “normalidade”. Nunca conseguimos decifrar ao certo se ela está mentindo ou sendo honesta, dadas as oscilações de seu temperamento diante das situações mais distintas possíveis: dela, sempre podemos esperar o improvável.

Com Bikini Moon, Manchevski (que com seu Antes da Chuva concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro) tem claramente a intenção de provocar o espectador quanto à sua capacidade de acreditar no quase “surreal” – o desfecho, por exemplo, é pura fantasia. Uma explosão de reviravoltas, Bikini Moon só não é mais interessante já que, dadas algumas circunstâncias, o filme não vai muito além disso, um debate sobre como assumimos uma verdade sem, de fato, sabermos se ela é ou não real. Outras questões de caráter social relevantes poderiam ter sido melhor exploradas, como a pobreza das ruas e a situação dos sem-teto. Ainda assim, vale como reflexão: em uma geração onde qualquer um pode ligar uma câmera e sair por aí postando vídeos na Internet até virar uma “celebridade formadora de opinião” (mesmo sem conteúdo algum), Bikini Moon nos faz pensar que nem tudo o que se vê é verdade até que se prove.

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