Tour de France (Tour de France)

Estrelado pelo veterano Gérard Depardieu e o rapper Sadek, Tour de France abandona o tradicional circuito parisiense (tão comum às produções francesas mais comerciais da contemporaneidade) para acompanhar sua dupla de protagonistas em uma espécie de “peregrinação” pela zona portuária da França – recriando os passos do pintor Joseph Vernet que, séculos atrás, foi contratado pelo monarca francês para uma série de pinturas dos portos da França. Durante o trajeto, surge uma improvável amizade entre essas duas personagens: de um lado, um membro ranzinza da classe proletária, representante da “velha guarda” preconceituosa que, como aspirante a artista, deseja cumprir a promessa que fizera à esposa falecida; na outra ponta, um jovem cantor de rap de origem árabe que faz desta viagem seu esconderijo particular, já que está ameaçado de morte no bairro em que vive.

Infelizmente, este road movie à la francesa sofre com a oscilação de sua narrativa, ora arrastada, ora ágil, em uma visível falha de ritmo que incomoda em alguns instantes (ainda que o filme seja relativamente curto). Existe também um contraste entre as atuações do corpulento Depardieu e o modesto, porém esforçado, Sadek – mas isto não é algo que torne Tour de France menos digerível. Pelo contrário, a obra de Rachid Djaidani acerta aos nos proporcionar um interessante retrato da França atual, uma nação multiétnica que acolhe os mais diversos povos – algo que foi primordial para a construção da identidade deste país e que hoje é bastante discutido. A França é um caldeirão de culturas, crenças e hábitos e o choque de gerações entre os dois personagens centrais de Tour de France acentua esse debate. O conflito entre eles é inevitável e o desenrolar da trama mais ainda: ambos têm muito a aprender um com o outro e, apesar de suas diferenças, estas duas pessoas têm muito em comum – especialmente o fato de serem humanos.

O Vale do Amor (Valley of Love)

Sutilmente protagonizado pelos astros franceses Gérard Depardieu e Isabelle Huppert, O Vale do Amor acompanha um pai e uma mãe, divorciados, que se reencontram após muito tempo em uma viagem ao Death Valey, nos EUA, a pedido do filho que lhes escrevera uma carta antes de se suicidar. Durante a estadia, eles discutem a relação e refletem sobre o passado, enquanto enfrentam no presente a própria dor causada pela morte do filho.

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Dirigido por Guillaume Nicloux (do elogiado A Religiosa, de 2013), O Vale do Amor não é um filme para qualquer um. Com um desenvolvimento lento e angustiante, porém preciso, o longa parece, a princípio, ser tão “desnorteado” quanto seus protagonistas: eles estão ali à procura de respostas para seu sofrimento. Cada um deles, entretanto, reage de uma forma particular: suas razões não são as mesmas e os conflitos nascem daí, através de diálogos emocionalmente carregados que nos fazem sentir a dor destes personagens como se fôssemos nós mesmos quem tivéssemos perdidos um ente próximo, ou pelo menos nos colocar no lugar deles, mas mantendo certa distância.

Triste, poético, etéreo – esses podem ser alguns dos adjetivos que me vêm à cabeça quando penso em O Vale do Amor. É um filme sobre o luto, mas não sua superação e sim sua dor. Ela não passa facilmente (quando passa), ela machuca, corrói e, na maioria das vezes, não tem explicação, como boa parte das coisas em nossa existência. As feridas nem sempre podem ser saradas, mas o tempo não para e a vida continua. É estranho pensar assim? Sim, mas é provavelmente por isso que O Vale do Amor não tenha um final feliz. Com atuações acima da média e uma fotografia bastante atraente, O Vale do Amor nos convida à uma interessante reflexão sobre os traumas do luto, com um argumento rico e competente para tornar este um filme melancolicamente necessário.