Tour de France (Tour de France)

Estrelado pelo veterano Gérard Depardieu e o rapper Sadek, Tour de France abandona o tradicional circuito parisiense (tão comum às produções francesas mais comerciais da contemporaneidade) para acompanhar sua dupla de protagonistas em uma espécie de “peregrinação” pela zona portuária da França – recriando os passos do pintor Joseph Vernet que, séculos atrás, foi contratado pelo monarca francês para uma série de pinturas dos portos da França. Durante o trajeto, surge uma improvável amizade entre essas duas personagens: de um lado, um membro ranzinza da classe proletária, representante da “velha guarda” preconceituosa que, como aspirante a artista, deseja cumprir a promessa que fizera à esposa falecida; na outra ponta, um jovem cantor de rap de origem árabe que faz desta viagem seu esconderijo particular, já que está ameaçado de morte no bairro em que vive.

Infelizmente, este road movie à la francesa sofre com a oscilação de sua narrativa, ora arrastada, ora ágil, em uma visível falha de ritmo que incomoda em alguns instantes (ainda que o filme seja relativamente curto). Existe também um contraste entre as atuações do corpulento Depardieu e o modesto, porém esforçado, Sadek – mas isto não é algo que torne Tour de France menos digerível. Pelo contrário, a obra de Rachid Djaidani acerta aos nos proporcionar um interessante retrato da França atual, uma nação multiétnica que acolhe os mais diversos povos – algo que foi primordial para a construção da identidade deste país e que hoje é bastante discutido. A França é um caldeirão de culturas, crenças e hábitos e o choque de gerações entre os dois personagens centrais de Tour de France acentua esse debate. O conflito entre eles é inevitável e o desenrolar da trama mais ainda: ambos têm muito a aprender um com o outro e, apesar de suas diferenças, estas duas pessoas têm muito em comum – especialmente o fato de serem humanos.