Jovem e Bela, do diretor francês François Ozon (de Dentro da Casa e 8 Mulheres), estreou há algumas semanas no circuito nacional. Já apelidado por alguns de “Bruna Surfistinha Francês”, o filme retrata um tema recorrente no cinema: a prostituição. No entanto, não se engane: Jovem e Bela não é um produto descartável, mas tampouco indispensável.
Protagonizada pela irresistivelmente bela Marine Vacth, a história gira em torno de Isabelle, uma garota de 17 anos que após perder a virgindade com um namoradinho de verão alemão (e que a deixou claramente decepcionada), começa a se prostituir. No entanto, um fato inesperado faz com que sua família descubra a vida dupla da garota, que agora é vigiada e perde totalmente a confiança de seus pais.
Muita gente saudou Jovem e Bela como uma versão moderna de A Bela da Tarde, clássico francês dirigido por Luis Buñuel em 1967 e que tornou Catherine Deneuve símbolo sexual instantâneo. As comparações podem parecer evidentes – mas não são, se analisarmos friamente. No longa de Buñuel, somos apresentados a uma mulher que, insatisfeita no casamento, decide se aventurar na prostituição, procurando em outros homens o prazer que seu esposo não lhe proporcionava dentro de casa. Justificável? Em se tratando de cinema, sim. Aqui, a escolha da entrega a outros homens simbolizava claramente a oposição ao machismo que marcou aquele período.
Em Jovem e Bela, Isabelle não tem nenhum motivo aparente para se prostituir. Estuda em um bom colégio, tem uma boa relação com a família, não tem falta de nada. Sua relação com os clientes é estritamente profissional – é fria, direta e pouco sentimental. Ela não parece sentir prazer em suas experiências – tampouco utiliza o dinheiro que consegue para comprar roupas de grife ou aparelhos de última tecnologia. Ao que parece, Isabelle se prostitui apenas por uma inquietude, uma curiosidade, como uma forma de transgredir seus conceitos e superar seus próprios limites.
Essa abordagem um tanto quanto “fria” faz com que o filme não trate de nenhum aspecto moral. Portanto, não há justificativas – tudo o que Isabelle faz na tela simplesmente não promove nenhum debate ou fornece resposta alguma. Isso é ressaltado ainda mais com a atuação “opaca” que Marine empresta à sua personagem. Com algumas sequencias que caem para o lado mais erótico, o real mistério e justificativa de Isabelle nunca ficam totalmente explícitos. Também contribui para isso o desenvolvimento superficial das demais personagens que, com exceção do irmão de Isabelle (com quem ela tem uma relação mais amistosa), pouco adicionam à narrativa.
Dividido em quatro partes – e cada uma representando uma das estações do ano – , Jovem e Bela é um filme denso, com momentos bons e outros mais cansativos, que não faz julgamentos morais e muito menos dá respostas às ações de sua protagonista – respostas essas que ficam à mercê do espectador. Jovem e Bela não é a melhor obra de Ozon, mas também não deve ser descartado. Com uma bela fotografia e trilha sonora pontual, é um longa visualmente bonito, mas que não tem um propósito muito certo – e, talvez exatamente por isso, possa parecer tão perdido quanto sua protagonista.
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