Da série “remakes desnecessários”, chega aos cinemas brasileiros o longa Amor Sem Fim, nova versão de um clássico “água com açúcar” da década de 80. Classifiquei aqui como um remake desnecessário porque, vamos admitir: Amor Sem Limites, de Franco Zefirelli, não chega a ser um grande filme. Okay, marcou o início da década de 80, trazia a estonteante Brooke Shields como protagonista (no auge da carreira, capa de inúmeras revistas e referência de beleza), eternizou a canção Endless Love (dueto entre Lionel Richie e Diane Ross), mas… deixava a desejar como “cinema”. Sequer foi um sucesso de bilheteria. Enfim, não foi nada demais. Talvez por isso, na expectativa de superar o original, gerou-se certo burburinho quando a notícia do remake foi anunciada, lá por volta de 2012.
Em Amor Sem Fim, acompanhamos Jade Butterfield (Gabriella Wilde, de Os Três Mosquiteiros), uma jovem sem amigos e superprotegida pelos pais, que se apaixona por seu antigo colega de classe, o problemático David Elliot (Alex Pettyfer, de Magic Mike), para quem ela nunca havia dado bola. No entanto, o relacionamento não é aprovado pelo pai de Jade, que tenta impedir a todo custo o envolvimento entre os dois. Ou seja, uma típica história de “amor proibido”, tema batido no cinema, mas que aqui ganha um nível de decadência muito maior do que se podia esperar, pois o longa peca – e peca demais. A começar pelo roteiro que não ajuda. Não apenas por ser clichê, com um início, meio e fim já esperados e previsíveis, mas por não ter um rumo definido: não se sabe se é um “romance” mesmo, se é um filme teen, se é um filme mais “família”. O roteiro atira para todos os lados, mas não há um alvo certo e tudo é tratado com muita superficialidade. O romance não é romance por completo; as relações familiares são tratadas de forma grotesca e caricatas; os dramas adolescentes são abordados sob uma ótica muito mais próxima à leitura de revistas do tipo Capricho e Atrevida.
Quanto às atuações, é um desgosto ver um filme de cinema com um elenco como o que encontramos aqui. Há atores na novelinha global Malhação com muito mais talento (e isso se estende para o casting mais “experiente”). Talvez isso seja resultado do péssimo desenvolvimento das personagens, que oscilam constantemente e não tem a menor “personalidade”. David, por exemplo, é um jovem que teve problemas no passado, com um suposto comportamento agressivo e obsessivo – porém, é tão boa praça e doce quanto um favo de mel (mas depois, agride o pai da amada; depois se arrepende; e depois…). Jade, então… no início é apontada como uma garota deslocada e tímida (provavelmente por conta de uma perda familiar), que nunca conheceu rapazes. Mas aí ela se apaixona e passa a lutar pelo seu grande amor, depois desacredita, depois acredita novamente… Totalmente confuso, não? Talvez o melhor exemplo da oscilação de personalidade entre esses personagens principais se dê na sequência da festa de formatura de Jade, quando David (que sempre foi apaixonado por ela, desde os tempos do colégio) dá uma de difícil e tenta se esquivar enquanto Jade o ataca – para dois minutos depois, a situação se inverter e David confessar que morria de vontade de beija-la. Não, é muita bipolaridade em um único filme…
Com quase 2 horas de duração, Amor Sem Fim é um daqueles típicos produtos que baterão cartão em sessões de filmes vespertinas e levarão adolescentes às salas de cinema. No entanto – e por incrível que pareça – não há nenhuma versão (ainda que piorada, tudo bem…) de Endless Love, um tema incrível que poderia, talvez, fazer Amor Sem Fim valer realmente a pena.