Pode parecer que não, mas The Hunting Party é apenas o sexto álbum de estúdio da banda Linkin Park. Digo isso porque Hybrid Theory, o primeiro e aclamado registro do sexteto californiano, foi lançado no ano de 2000 – apresentando à indústria fonográfica um dos artistas mais influentes de todos os tempos. Três anos depois, Linkin Park lançava mais um disco clássico: Meteora, contendo os maiores hits – para muitos, hinos – do grupo (Faint, Somewhere I Belong, From The Inside, Numb, citando apenas os mais conhecidos). Desde então, Mike, Chester e companhia não lançavam nada tão grandioso (com exceção de algumas faixas avulsas lançadas nos álbuns seguintes, mas que no conjunto de seus respectivos trabalhos não tinham tanta significância). E eis que surge The Hunting Party.
Não que o Linkin Park pós Meteora fosse ruim. Era apenas diferente – muito diferente. Deixou-se o nu-metal e alternativo e as influências do hip-hop dos primeiros anos e apostou-se em canções mais mornas e carregadas de elementos eletrônicos, o que decepcionou boa parcela dos fãs. Apesar disso, os álbuns foram bem recebidos, estreando em primeiro lugar em vários países e tendo ótimas vendagens. Mas faltava algo. Faltava ainda aquela identidade que parecia estar meio perdida e que agora parece ter retornado com The Hunting Party, ainda que timidamente.
The Hunting Party abre com a ótima Keys To The Kingdom, onde o vocalista Chester (com voz gritante e distorcida) assume: “Eu sou minha própria vítima: eu acabo com tudo que vejo lutando na futilidade”. Já aí a banda entrega tudo o que está por vir: batidas incontroláveis, guitarras pesadas e os inconfundíveis berros de Chester – em boa fase para seus quase 40 anos. Segue-se com All For Nothing, parceria com Page Hamilton (vocalista do Helmet) e uma das melhores canções da carreira dos caras – a que mais traz a sonoridade do Linkin Park dos primeiros trabalhos. Alem do excelente instrumental e do vocal de Mike Shinoda (que é muito bem explorado aqui), a faixa é praticamente um “dedo no meio” que o grupo escancara para os críticos.
Guilt All The Same também é um ótimo momento em The Hunting Party. Com uma introdução de 1 minuto e meio, a música tem um ar dark e possui a melhor letra dessa demanda, encabeçada pelo refrão com a frase “Você são todos culpados da mesma forma, doentes demais para se envergonhar! Vocês querem apontar o dedo, mas não há mais ninguém para culpar”. Vale lembrar que Guilt All The Same foi escolhida como primeiro single – um presente para os fãs. Quebra-se o ritmo alucinante com a instrumental The Summoning, que abre caminho para War – música com fortes influências do mais autêntico punk. É impossível ouvir War e não imaginar uma banda de punk rock quebrando tudo com seus berros intermináveis e a platéia indo ao delírio. É praticamente um “Vocês queriam rock de verdade? Então está aí…”. Em seguida, temos Wasterlands, mais uma faixa com a pegada dos primeiros discos – tem Chester e Shinoda dividindo as atenções e fazendo ótimos vocais, alem de uma batida hip-hop meio quebrada com ótimos riffs de guitarra.
Until It’s Gone começa com um sintetizador no melhor estilo Numb e tem ares épicos com seu forte cenário orquestral – uma balada para dar aquela acalmada. Daron Malakian, guitarrista do System of a Down, empresta seu talento na faixa Rebellion – e talvez por essa razão a canção parece ter saído do álbum Toxicity. Mark The Graves peca um pouco com sua longa introdução e, apesar de não ser ruim, se perde com seus altos e baixos e dá uma segurada nos ânimos mais afoitos. Drawbar é mais uma instrumental que põe o pé totalmente no breque, abrindo caminho para mais uma baladinha, Final Masquerade. Com os mesmos ares de grandeza de Until It’s Gone, tem grandes chances de virar single, representando uma espécie de “momento descanso”. Para finalizar, A Line In The Sand, canção mais longa deste trabalho, começa na mesma zona de relaxamento de Final Masquerade, e tem vários momentos de oscilação, mas não representa nada muito grandioso.
The Hunting Party é, provavelmente, o melhor registro do grupo desde Meteora. Para os fãs que sonhavam com um retorno às origens – mas que, devido aos discos anteriores, não tinham muita esperança – The Hunting Party vem como ótima surpresa, sendo um álbum que pode até não agradar completamente mas não decepciona em nada. Com uma ótima produção, The Hunting Party vai na contramão das tendências musicais da indústria – em entrevista à revista Kerrang, o líder da banda, Mike Shinoda, disse que o disco vinha “como uma resposta ao mercado da música atual”. Sobre isso, Mike foi categórico:
Eu li um post em um blog no ano passado sobre como a música é uma droga hoje em dia, e eu concordo. Há bandas como Arcade Fire e Mumford & Sons, que são legais se você gosta desse estilo, mas aí existem outras centenas de bandas tentando imitar essas duas.
Pois é, faz sentido. É um fato que atualmente tudo parece igual. Portanto, receber uma produção como The Hunting Party a essa altura (de uma banda que está em plena atividade e melhor do que nunca) é sempre um bom e refrescante alívio.
Só não concordo com o que você falou de A Line In The Sand, é uma música grandiosa PRA MIM e fecha o disco com chave de ouro.