A primeira pergunta que passou pela minha cabeça após assistir a O Bom Dinossauro foi “Esse filme é realmente necessário?” – e esta questão me perturbou durante um tempo. Sim, porque sejamos honestos: após entregar uma de suas melhores animações em todos os tempos (Divertida Mente), a Pixar não precisava – nem nunca precisou, na verdade – provar nada a ninguém. Mais do que isso: é sempre com muita expectativa que aguardamos qualquer projeto do estúdio, afinal sempre somos surpreendidos, certo? Bem…
O Bom Dinossauro não é ruim, entenda – mas deixou a desejar. E muito. A trama parte de um conceito clássico do cinema: um herói que precisa buscar coragem para conquistar algo. Assim, conhecemos Arlo, o caçula dos três filhos de uma família de dinossauros. Diferente dos irmãos, Arlo é um desastre nos afazeres cotidianos por conta do medo que possui de tudo e de todos, apesar da ajuda e incentivo dos pais. Após uma série de fracassos, Arlo tem a chance de matar a criatura que está roubando a comida que sua família armazenara para o inverno – mas descobre que o ladrão é um menino humano primitivo e, por pena, deixa-o escapar. Mais tarde, tentando consertar a situação, Arlo se afasta do seu lar e reencontra o garotinho, tornando-se amigo dele e procurando um caminho de volta para casa.
Embora comece de forma promissora (questionando o espectador sobre como seria a relação entre humanos e dinossauros caso o asteroide que teria dizimado os grandes répteis não tivesse atingido a Terra), O Bom Dinossauro é um filme que não empolga e, principalmente, não surpreende. Pior: a narrativa é uma cópia de várias outras fitas infantis. Para começar, a abordagem sobre amizade nos remete imediatamente a Toy Story, com dois personagens que não se dão muito bem mas, devido às circunstancias, precisam se “suportar” para sobreviver. É possível também nos lembrarmos de Procurando Nemo na jornada que o protagonista faz em busca de seu objetivo – com quebras narrativas para apresentar outros personagens (com a diferença aqui que nenhum deles é engraçado). Ainda conseguimos enxergar certa referência a Mogli na forma como Spot, o pequeno humano, é retratado. Mas nenhuma associação é tão descarada quanto ao clássico Disney O Rei Leão – inclusive com sequências que são praticamente idênticas ao filme de 1994. O grande problema é que em O Bom Dinossauro não se trata de uma homenagem – aqui, estamos falando de um punhado de idéias já vistas que soam batidas, previsíveis e, mais do que tudo, manipuladoras.
Assim, O Bom Dinossauro se torna deveras cansativo ao longo de sua uma hora e meia de projeção – quase uma eternidade – , o que faz com que o público mais adulto não consiga se enternecer. Para as crianças, faltam personagens mais cativantes (além de uma dose de humor que chame a atenção dos pequenos). O Bom Dinossauro é até bem feito tecnicamente (os frames são bem executados, mostrando a excelência tecnológica Pixar, capaz de produzir cenários incríveis), mas carece de uma história, digamos, mais original. Não é o caso de dizer que estamos diante do pior filme da Pixar, até porque temos Carros 2 e Valente aí para competir. Mas é fato que O Bom Dinossauro não chega a ser um marco no estúdio. Definitivamente, O Bom Dinossauro é legal, porém desnecessário.