Ventre, drama alemão do diretor Benedek Fliegauf, sob certo aspecto propõe a discussão de dois temas polêmicos: a engenharia genética e o incesto. Na trama, Eva Green é Rebecca, uma moça que esperou por doze longos anos sua grande paixão de infância, Thomas (Matt Smith). Quando finalmente o reencontra, o jovem morre fatalmente em um acidente de trânsito. Desconsolada, Rebecca decide fazer uma fertilização artificial com o DNA de Thomas, gerando um clone do falecido. O tempo passa e a cada dia Rebecca sente mais dificuldade para esconder a verdade do filho, além de conviver constantemente com o desejo de consumar seu amor por Thomas.
Amparado por uma bela fotografia em cores frias (predominantemente em tons azulados, acentuando toda a melancolia da fita), Ventre é um filme contemplativo. Esteticamente, tudo é muito bem articulado: os planos são cuidadosamente captados, dos panorâmicos aos mais fechados (estes últimos exprimindo com perfeição as dúvidas de suas personagens). A produção ainda conta com um ótimo trabalho de som, da edição e mixagem à trilha sonora minimalista. Além disso, o casal de protagonistas demonstra muito empenho, com destaque para Green, em um tipo perturbado que já lhe é bastante comum. No auge de sua beleza, a atriz é excessivamente atraente e faz de sua Rebecca uma mulher visivelmente dividida – fato que lhe é reforçado especialmente a partir da segunda metade do longa.
Mas principalmente, Ventre é silencioso. A ausência de diálogos predomina durante a fita, sendo estes substituídos pelos olhares angustiados (e a troca deles, claro) de seus personagens. Um clima de incerteza permeia toda narrativa, uma tensão abrupta se instaura a todo momento – como se algo estivesse prestes a acontecer e nunca, de fato, acontece. O espectador fica nesta aflição até o desfecho da história, que ocorre sem um clímax devido, como se apenas para “compensar” o público (ou choca-lo, como alguns podem alegar). Para além disso, os debates propostos ficam à beira da superficialidade e nunca são aprofundados. Ventre é um filme para poucos: esteticamente belo por um lado, pelo outro infelizmente lhe faltou ousadia e é isso que o impede de ser um cinema memorável.