Café Society vem sendo saudado como um dos melhores filmes de Woody Allen nos últimos tempos – provavelmente o mais elogiado desde Meia Noite em Paris, em 2011. Não que o longa (que estreou em Cannes este ano) esteja na lista de suas obras mais primorosas ou que Allen tenha retornado à sua velha forma – mas, de fato, Café Society é, no mínimo, um filme agradável de se ver.
A história, que se passa na década de 30 (na efervescência da chamada ‘era de ouro’ do cinema, com suas luzes e cores em technicolor) acompanha o judeu nova-iorquino Bobby (Jesse Eisenberg), que sai do Bronx para tentar ganhar a vida em Hollywood trabalhando com seu tio Phil (Steve Carell), um poderoso agente dos astros de cinema de então. Não demora muito para que o inocente Bobby se apaixone por Vonnie (Kristen Stewart), sem saber que a bela jovem é amante de Phil.
Café Society é apenas Woody Allen sendo ele mesmo. Todos os “ingredientes” de seus filmes estão ali: um protagonista que é seu próprio ego (aqui potencializado às alturas com a atuação de Eisenberg), um drama cotidiano discutido entre diálogos existencialistas e piadas com judeus, uma trilha sonora regada a jazz, enfim… Café Society é uma típica produção de Allen, contando inclusive com a mesma identidade visual de suas obras mais recentes – mérito da ótima fotografia do veterano Vittorio Storaro, que trabalha com filtros de luz que favorecem muito o estilo garboso da época.
O elenco estelar agrega muito à narrativa. Steve Carell demonstra carisma na pele do ricaço Phil, enquanto Eisenberg cai como uma luva ao personagem Bobby. É incrível o quanto o ator está um verdadeiro protagonista de Allen. Mais: Jesse é praticamente o próprio Allen. Seja na calça acima do umbigo, nas mãos na cintura ou no falar cômico, o intérprete parece ter assistido a todos os filmes em que Woody atua porque ele é cópia fiel do cineasta. Já Stewart empresta bastante sobriedade à sua Vonnie. É interessante analisar o quão bem Woody desenvolve essa personagem: o que temos em cena é uma mulher que ama dois homens com a mesma intensidade, porém de maneiras distintas (e é óbvio que ela vai optar por aquele que lhe é mais conveniente). Allen, no entanto, não procura trazer nenhum debate moralista a esta trama; ele não discute as escolhas desta figura feminina, apenas suas consequências.
O amor não correspondido mata mais pessoas no ano do que tuberculose.
Assim, Café Society se destaca. Com seu tom terno e acolhedor, ele nos faz rir em inúmeros momentos, nos emocionar em outros tantos, refletir com algumas de suas frases de efeito, como um bom filme de Woody Allen deve ser. Sua conclusão, todavia, não é muito feliz como uma produção mais “comercial” exigiria. Pelo contrário: seu desfecho é triste, duro, assim como a vida em algumas ocasiões. É um lado mais racional para se encarar nossa existência. Café Society não é a obra máxima de Allen, mas por ainda estar acima da média, atesta a genialidade de seu diretor.
Deu até vontade de assistir