A rivalidade entre familiares e a trama com duplos são os temas de Carnívoras, longa dos irmãos estreantes Jérémie e Yannick Renier. A propósito, há algumas semelhanças entre os dois cineastas e as protagonistas de Carnívoras: enquanto Jérémie (o mais novo) ficou conhecido por atuar em inúmeros filmes de sucesso, Yannick possui uma filmografia bem mais modesta como intérprete. O mesmo quase acontece com Mona (Leïla Bekhti) e Samia (Zita Hanrot): enquanto a primeira sempre sonhara em ser atriz, é a caçula quem alcança o prestígio na profissão. Forçada a morar com Samia, Mona vê de perto a irmã levar a vida que tanto almeja – e a inveja, claro, é inevitável. Fragilizada, no entanto, por um personagem que exige muito dela, Samia entra em um profundo desespero que faz com que a jovem passe a negligenciar seus papéis como profissional, esposa e mãe – funções essas que passarão a ser assumidas pela irmã mais velha.
Um dos destaques da última edição do Festival Varilux, Carnívoras é um filme conduzido às rédeas curtas, evidenciando a preocupação de seus idealizadores em “não errar” – o que, infelizmente, também é um erro. A impressão que se dá é que o filme está a ponto de engrenar a qualquer instante, mas isto não chega a acontecer: pelo contrário, em alguns momentos é nítida a quebra de ritmo, o que torna Carnívoras um título um tanto irregular. A obviedade na construção das personagens é outro ponto que faz com que não tenhamos tanta empatia por elas: enquanto Mona é a personificação da mulher pudica, reservada e tímida que se esconde atrás do figurino recatado e dos enormes óculos de grau, Samia é a intempestividade em pessoa, com seus cabelos esvoaçantes e o sex appeal exalando – em duas representações totalmente estereotipadas da mulher contemporânea. Mesmo as reviravoltas da trama não são suficientes para provocar a curiosidade do público, já que as limitações impostas (ainda que inconscientemente) por seus diretores impedem Carnívoras de ser um filme mais interessante e marcante, apesar do potencial para isso. Fica-se apenas um thriller genérico que, apesar da cinematografia promissora, não consegue ir além de um entretenimento mediano.
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