Em sua estreia como diretor, Bradley Cooper apostou em um projeto que não tinha como dar errado: o remake do clássico Nasce Uma Estrela (o quarto, para ser mais exato), um filme descaradamente feito sob medida para Lady Gaga. A trama, que acompanha o relacionamento conturbado entre o astro do rock Jackson Maine e a jovem cantora Ally, caiu como uma luva para ser a Lady Gaga o que Evita foi para Madonna, praticamente um presente de Cooper com um bilhete dizendo “Toma, Gaga, vem cá, vamos esfregar seu talento na cara dos haters, ok?”.
E, de fato, a cantora (e agora atriz) não decepciona: Gaga chama o filme pra si. Não que a personagem exija muito dela, mas a artista tem um carisma inegável – isto sem mencionar os dotes musicais já conhecidos pelo público. Aliás, a trilha sonora de Nasce uma Estrela é irretocável: Shallow, por exemplo, carro-chefe do longa, é até aqui uma das favoritas ao Oscar de melhor canção no próximo ano. Gaga até ofusca o protagonista de Cooper que, com sua barba e cabelos desgrenhados, entrega uma atuação no máximo mediana, destacando-se, sobretudo, na parte vocal. Juntos, felizmente, a dupla mantém uma química interessante em cena.
O roteiro, no entanto, carrega uma forte carga melodramática, algo que em décadas anteriores até caía bem – hoje nem tanto. A forma como o argumento desenvolve os personagens enquanto “artistas” é desestimulante, especialmente na segunda metade da fita, com a decadência de Jack (destinada desde o início, o que não permite ao espectador digerir essa transição) e a ascensão de Ally (que, no ato final, nada mais é do que uma paródia da própria Lady Gaga). Assim, as melhores sequencias de Nasce Uma Estrela são os momentos de diálogos e intimidades entre o casal e um ou outro número musical mais empolgantes. No conjunto da obra, este Nasce Uma Estrela é um filme sonora e visualmente bem executado, mas que não passaria de uma produção genérica não fosse o apelo da história e, claro, os astros que a estrelam.