Closer: Perto Demais (Closer)

Closer: Perto Demais foi vendido como “uma história de amor madura”. Baseada na peça teatral de Patrick Marber, talvez esta seja a melhor definição do que o filme realmente é: uma trama de amor moderna – e, como sugere o título, uma olhada muito mais próxima nas fraquezas e problemáticas das relações humanas no nosso tempo.

A narrativa segue os encontros e desencontros de quatro personagens. Dan, um jornalista fracassado, cruza casualmente com a striper Alice, recém-chega dos EUA, em meio à agitação da capital britânica. Passado um tempo, Dan conhece Ana em uma sessão fotográfica e passa a se relacionar com a artista. Também de forma casual (através da troca de identidades em um chat na internet), Ana se envolve com o médico Larry – formando uma espécie de casal “perfeito”: ambos bem sucedidos em suas profissões, é o casal que, aparentemente, vive um conto de fadas. No entanto, quando o envolvimento entre Ana e Dan é descoberto por Larry, ocorre uma espécie de troca de casais – formando o “retângulo” amoroso central.

Sim, confesso que explicando assim, tudo pode parecer um pouco confuso – mas não o é. Closer é direto, despudorado, bem resolvido – assim como suas personagens. Isso se reflete em um roteiro afiado, com diálogos abertos, marcantes e, por muitas vezes, descarados. Houve, na época de lançamento, quem classificasse o filme como imoral (apesar da ausência de cenas de sexo ou nudez). Talvez essa classificação tenha sido gerada pela forma sincera (por muitas vezes vulgar ou violenta) como as personagens se relacionam com seus pares – e até mesmo consigo mesmas.

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Closer é um desenrolar de traições, relações sexuais e relacionamentos entre os quatro personagens. Entre idas e vindas, eles se amam e se odeiam; se traem, mentem uns para os outros, exibindo personalidades por vezes amorais. Em um determinado momento, Ana joga na cara de Dan que “ele não conhece nada sobre o amor porque ele não entende compromisso”. Esse desenrolar frenético se evidencia no roteiro, por vezes, atropelado: ocorrem saltos cronológicos na narrativa (meses e até anos) que evidenciam o desequilíbrio dessas relações e tornam o filme, sob certo aspecto, circular: termina exatamente do ponto onde começou.

Quanto ao elenco, é necessário dizer: Closer é impressionante. Jude Law, um tanto apático, é o que menos causa frisson, mas faz um trabalho eficiente. Julia Roberts, mais serena do que nunca, traz uma atuação segura que se adequa bem à sua personagem, assim como Clive Owen, que faz um tipo beirando a paranoia que é o retrato de muitos homens que encontramos por aí. No entanto, é Natalie Portman quem realmente brilha (muito antes de Cisne Negro – pelo qual faturou o Oscar de Melhor Atriz). Na pele de Alice, Natalie é enigmática, sensual e controversa – arriscaria dizer, uma das melhores antagonistas femininas do cinema.

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Mike Nichols, com uma direção precisa, lança diversos planos fechados em seus atores, o que realça o sofrimento de suas protagonistas – como na cena do ensaio fotográfico de Alice. Com uma fotografia moderna, o filme tem poucas tomadas externas – o que fortalece o clima de intimidade que estaremos invadindo. A trilha sonora, que passeia de Bebel Gilberto com “Samba da Benção” à belíssima The Blower’s Daughter” de Damian Rice, acentua ainda mais o clima intimista do longa, nos deixando mais a vontade para invadir a privacidade de suas personagens.

Com uma visão pessimista em diversos momentos, Closer lança um olhar sobre a problemática dos relacionamentos humanos, nos mostrando bem de perto as fraquezas de nossa natureza. Serve para explanar as contradições das relações, expondo a impotência do homem diante daquilo que sente – e daquilo que deseja. Longe dos blockbusters norte-americanos (com suas tramas recheadas de mocinhos e vilões), Closer é um filme próximo à vida real, onde os personagens não são julgados por serem bons ou maus – ainda que você, em algum momento, possa sentir repulsa às suas ações. Diferente das histórias de amor hollywoodianas convencionais (aqui parece que não há o amor verdadeiro; apenas uma projeção que jamais será atendida), Closer tem um grande mérito: sua imprevisibilidade e, assim como o amor, é um filme onde o espectador mergulha de cabeça – sem se preocupar com o que está por vir.

Cisne Negro (Black Swan)

Quando li a sinopse de Cisne Negro, confesso que não me interessei imediatamente. Achei-o apenas mais um drama como tantos outros, que tentam prender a atenção do telespectador com histórias clichês sobre artistas que enfrentam uma má fase em sua carreira e buscam superação. A única coisa que me entusiasmou foi o fato do filme ter Natalie Portman como protagonista – pois além de acha-la talentosa, considero-a uma das mulheres mais bonitas do cinema. Entretanto, minhas expectativas foram superadas logo nas cenas iniciais da bela obra de Darren Aronofsky.

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Não se trata apenas de um filme qualquer: é um dos melhores dramas psicológicos da década. O longa conta a história de Nina, uma dançarina cuja marca é a perfeição. Após anos atuando em pequenos papéis, ela tem a grande chance de sua carreira ao ser escolhida para protagonizar o clássico O lago dos cisnes. Nina é a artista ideal para o papel de Cisne Branco: é doce, meiga, delicada; por outro lado, mesmo com toda sua técnica perfeita, ela é incapaz de interpretar com desenvoltura o Cisne Negro, que exige uma postura sensual, maligna, perversa, completamente oposta à sua personalidade.

O foco da narrativa persegue a trajetória de Nina ao compor essa personagem. Até então, tudo bem. É um percurso pelo qual muitos atores passam e também um tema já abordado outras vezes no cinema. Para recriar o Cisne Negro, ela tem de lutar contra forças que nunca havia enfrentado antes, como a pressão da mãe protetora ou o assédio de seu instrutor. Mas, principalmente, ela tem de enfrentar uma força maior: ela mesma. À medida que ela vence esses desafios, ela começa a encontrar os verdadeiros passos para sua dança. Ou seja, a superação na carreira só chega quando Nina consegue superar seus traumas pessoais, em uma guerra contra si mesma que é, por muitas vezes, dolorosa e sofrida.

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Nina é obcecada pela perfeição, pela técnica, pela ambição de ser uma protagonista, que é incapaz de perceber os limites que separam sonho e realidade – mudança constante no filme. E Natalie Portman não ganhou o Oscar de melhor atriz à toa. A transformação pela qual sua personagem passa no decorrer da trama (em curtos espaços de tempo) é absorvida e transmitida de forma tocante pela jovem atriz. É possível sentir cada dor, cada gota de sangue, cada suor que é derramado por Nina durante sua jornada. É como se Natalie também tivesse de superar suas próprias dúvidas e incertezas para compor esta que, ao que tudo indica, é a personagem de sua vida.

Destaque também para as atuações de Vincent Cassel (como o exigente coreógrafo de balé) e Barbara Hershey, que brilhou como a mãe de Nina, uma bailarina frustrada por ter de abandonar sua carreira para cuidar da filha. Inesperadamente, temos também uma Winona Ryder caótica, interpretando a veterana dançarina Beth, que também se torna uma das inimigas de Nina em seus pesadelos mais macabros. A trilha sonora é outro ponto forte, sendo indispensável para a caracterização da história.

Drama psicológico que surpreende e seduz ao mesmo tempo, Cisne Negro é mais do que uma simples lição sobre as dificuldades da vida e suas superações. Alguns o consideram até mesmo um thriller, pois a forma como a história caminha ao longo da película é assustadora. Com atuações brilhantes e direção impecável, Cisne Negro é uma metáfora sobre a condição do artista moderno e sua ambição pelo reconhecimento e, principalmente, pela perfeição, que pode levar a cada um de nós a descobrir sentimentos (e um outro lado de si) que podem nos surpreender.