Encurralado (Duel)

4Lá no começo da década de 70, o cinema começava a passar por uma transformação. Nessa época, surgiam alguns diretores que influenciariam todas as gerações seguintes (inclusive a nossa) e reinventariam o conceito de cinema, popularizando a arte e criando o gênero “pipoca” (aquele tipo de cinema voltado para toda a família). Dentre os principais expoentes dessa trupe, um dos nomes mais cultuados é o de Steven Spielberg que, em 1971, lançou o suspense Encurralado – uma produção que, apesar de não ter a mesma magnitude de seus clássicos lançados posteriormente, já lançava os holofotes sobre o jovem cineasta.

Eu disse que Encurralado não tem a mesma magnitude de outras obras de Spielberg? Quanta injustiça! Encurralado é, talvez, um dos melhores exemplos da obra do diretor, reunindo tudo aquilo que Spielberg faria em sua vasta carreira. Adaptado de um conto, Encurralado foi o primeiro longa do diretor, feito diretamente para a TV (foi lançado para um programa semanal da ABC). Na época, o então desconhecido Spielberg conseguiu carta branca do canal para produzir o telefilme com um prazo de 10 dias (há a lenda de que Spielberg teria estourado o cronograma em 3 dias e outras maluquices…) e, contrariando todas as expectativas, Spielberg entrega uma das melhores histórias de perseguição do cinema – e um dos filmes mais influentes de sua carreira. A premissa é simples: David é um pai de família que está dirigindo em uma rodovia rumo a uma reunião de negócios. Pouco se sabe a respeito do nosso protagonista. No meio da viagem na região desértica estadunidense (recheada de longas e retas estradas e paredões), ele ultrapassa um caminhão-tanque enferrujado, que a partir de então passa a persegui-lo durante todo o caminho.

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Encurralado não possui cenas elaboradas de perseguição (alguém aí falou em Velozes e Furiosos?), nem uma trilha sonora arrebatadora ou mesmo diálogos marcantes (aliás, o que quebra o gelo é o duvidoso artifício de expor os pensamentos do protagonista). No entanto, há um excelente trabalho de edição aqui, que cria uma atmosfera atordoante e nos permite ter uma sensação de perseguição constante através de seus vários takes. Com esses artifícios, Spielberg consegue tornar o caminhão o grande vilão da história, transformando-o em um monstro de proporções gigantescas – ocultando a identidade de seu  motorista durante todo o filme, o que aumenta ainda mais a tensão. Ou seja, o grande  pedaço de metal enferrujado ganha vida própria, causando medo e pavor no protagonista.

O fato de não mostrar o condutor do veículo durante todo o evento torna Encurralado ainda mais intrigante. É um dos artifícios que Spielberg utiliza para manipular a emoção do espectador. Spielberg (que mais tarde ficaria famoso com seus blockbusters) consegue mexer com o espectador sem fazer muito esforço, em um longa que não te deixa desgrudar os olhos da tela. Com um desfecho espetacular, Encurralado é um ótimo filme para os padrões Spielberg.

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