Ah, o mundo das celebridades… Não é muito curioso o fato de que este universo cheio de peculiaridades tenha interessado o diretor Joe Roth. Apesar de sua obra como cineasta ser relativamente modesta, é como produtor que Roth se destaca: entre seus últimos sucessos, estão a versão burtoniana de Alice no País das Maravilhas, Encontro Explosivo (com Cruise e Cameron) e o mais recente Malévola. Ou seja, “celebridades” é um assunto que Roth pode discutir com bastante propriedade porque efetivamente o conhece. No entanto, seu trabalho mais significativo como cineasta não alcançou o esperado sucesso de crítica que propunha, apesar de ter tido um bom desempenho nas bilheterias.
Os Queridinhos da América é um daqueles filmes que tinha tudo para ser um sucesso antes mesmo de seu lançamento. Afinal, o elenco selecionado era uma reunião dos maiores queridinhos hollywoodianos na época. A começar, pela estrela maior: Julia Roberts, que acabara de receber o primeiro Oscar da carreira por sua atuação em Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento. Naquele momento, a simples menção do nome de Julia já era o suficiente para que um projeto fosse adiante – não à toa, o nome da atriz é o primeiro a se ver na tela, apesar de sua personagem ser praticamente uma secundária. Depois, há Catherine Zeta-Jones, sempre linda, um ano antes de co-estrelar Chicago – pelo qual faturou o Oscar de melhor coadjuvante. O time masculino, por sua vez, conta com o simpático John Cusack e Billy Crystal – um dos principais apresentadores da cerimônia do Oscar e que também assina a produção e o roteiro do longa.
A premissa de Os Queridinhos da América é abordar o mundo das celebridades. O filme começa com uma espécie de reportagem que explica o porquê Gwen Harrison e Eddie Thomas (Catherine e Cusack, respectivamente) formam o casal mais famoso – e rentável – de Hollywood. Eles são jovens, bonitos, possuem uma ótima química na telona e seus trabalhos são campeões de bilheteria. Mas há um problema: Gwen, que se apaixonara por um ator espanhol, quer o divórcio imediato, enquanto Eddie se recupera da separação em um retiro espiritual. Se juntos o casal é imbatível, separados eles vão de mal a pior: o último filme de Gwen, por exemplo, foi um fiasco e a bela é constantemente massacrada pela crítica, enquanto Eddie apresenta um quadro psiquiátrico deplorável. É aí que surge Lee Philips (Billy Crystal), um experiente assessor de imprensa e produtor que tem a missão de mostrar à mídia que Gwen e Eddie estão ainda vivendo harmoniosamente para, assim, divulgar o novo filme do casal.
A proposta, ao que tudo indica, é flagrar o que se passa nos bastidores da indústria cinematográfica, mas é um fato que Os Queridinhos da América acaba se mostrando muito mais uma comédia romântica no padrão “Julia Roberts de Ser na Década de 90”. E mesmo como comédia romântica, o longa parece não funcionar. Apesar de possuir alguns momentos divertidos, o roteiro de Crystal não tem criatividade, alem da ausência de piadas inteligentes que justifiquem o gênero. Isso fica mais evidente com a direção insegura de Joe Roth, que não possui o menor timming – nem como comédia nem como romance. Como resultado, o filme fica totalmente perdido: o romance entre Eddie e Kiki (assistente e irmã de Gwen) não convence, as tiradas são forçadas e algumas cenas são vergonhosas. E, contrariando as expectativas, nem mesmo o elenco estelar consegue salvar: Julia é apática, sem graça; Billy apenas refaz seu tipo clássico e Cusack é irritantemente extravagante. Salva-se aqui Catherine que, mesmo excessivamente caricata, é hilária na pele da atriz cheia de excentricidades.
No fim, com um design de produção conveniente com a proposta do filme e uma trilha sonora que até consegue dar um charme ao tentar alavancar o estilo cômico da trama, Os Queridinhos da América é até “agradável”. Não fará você suspirar com uma bela história de amor, não fará você se contorcer com piadas bem feitas e muito menos irá propor algum tipo de discussão sobre os bastidores do mundo das celebridades – mas vai cair como uma luva se você estiver procurando uma trama leve, sem compromisso. Com um imenso potencial, Os Queridinhos da América é um exemplo perfeito de como uma direção frouxa e um argumento fraco são capazes de estragar uma produção – mesmo com um elenco queridinho pelo público.