O último álbum de Lady Gaga flopou – mas eis uma verdade que a cantora pop clamou em uma das músicas de trabalho do disco e que resume bem a sociedade midiática em que vivemos: “I live for the applause!”. Mas por que iniciei meu texto sobre Birdman com esta afirmação? Então, vamos lá…
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) é o novo e empolgante projeto do diretor mexicano Alejandro G. Iñárritu (dos elogiados Babel, Biutiful e Amores Brutos) e uma das maiores apostas ao Oscar 2015, concorrendo em 9 categorias. Na trama, que se passa nos bastidores da Broadway, acompanhamos Riggan, um ator famoso na década de 90 por interpretar um herói de sucesso no cinema (o tal “Birdman” do título), mas que caiu no esquecimento do público nos anos seguintes após rejeitar filmar uma sequência da franquia. Em decadência, Riggan decide montar uma peça de teatro para recuperar os tempos de glória e também para ter seu talento (sempre questionado) finalmente reconhecido.
Ao mesmo tempo em que acompanha o antigo astro de cinema em sua empreitada de retornar aos holofotes, Birdman também nos apresenta subtramas e personagens tão incríveis quanto nosso protagonista – e que geram todos os percalços enfrentados por Riggan para recuperar o prestígio perdido. E aqui temos alguns dos momentos mais interessantes da fita: a luta com seu alter-ego (na verdade, o próprio herói que um dia interpretou), a reaproximação com a filha, o relacionamento com um produtor que só visa lucros ou mesmo os desentendimentos com um ator surtado e cheio de extravagâncias. Através dessas histórias, o cineasta faz uma crítica implacável e com um humor inteligentemente sarcástico à indústria da fama e a todos os meios aos quais nós nos submetemos para mantermos nossa imagem sempre em evidência.
Com um elenco estelar, o destaque inevitavelmente fica por conta de Michael Keaton, nosso protagonista – curiosamente com uma história de carreira bastante similar à de sua personagem, mas deixemos isso em off. Arriscaria dizer que este é seu melhor trabalho em anos. Outro que aparece e quase ofusca Keaton é Edward Norton – uma explosão de variadas emoções e é simplesmente hilário.
Iñárritu ainda dá um show de técnica, com uma fotografia que fica ainda melhor com os longos planos-sequências – chegando até a enganar o espectador com a ilusão de que as ações da trama se desenrolam sem cortes, o que agrega muito ao roteiro inteligente e ágil escrito pelo cineasta em parceria com alguns amigos. Junta-se ainda a frenética trilha sonora (com muita percussão) assinada por Antonio Sanchez e os diálogos (profundos, mas sem soar “cafona”), que dão ritmo à história e tornam a produção dinâmica – apesar de algumas irregularidades causadas por sequências menos “agitadas” mas nem por isso descartáveis. No fim, Birdman não é um filme fácil – e pode até causar certo estranhamento à primeira vista. Repleto de metáforas, Birdman é um longa onde tudo funciona direito, criando uma obra que durante muito tempo vai ficar na mente do público.