Logo nas cenas iniciais de Mortdecai – A Arte da Trapaça somos apresentados a nosso protagonista: Charlie Mortdecai, um negociador de arte com caráter duvidoso e que está à beira da falência. Para saldar uma dívida milionária, ele aceita a missão de recuperar uma obra de arte que teria uma senha para acesso a uma conta secreta cheia de ouro nazista.
Detonado pela crítica, Mortdecai – A Arte da Trapaça também foi um fracasso de bilheteria – o terceiro seguido de Johnny Depp (precedido por Transcendence e O Cavaleiro Solitário). Mas o desprezo por Mortdecai não é mérito exclusivo de Depp. Está certo, convenhamos: Johnny Depp nunca foi um grande intérprete; a bem da verdade, ele é um artista mediano desde os tempos remotos. Para além disso, Johnny é um ator de tipos. Sabe aquele seu colega de trabalho que imita os demais e faz piada de si mesmo? Este é Johnny Depp atuando – infelizmente o público só percebeu isso após a franquia Piratas do Caribe. Mas ele não chega necessariamente a decepcionar e sua atuação até que flui razoavelmente bem – até porque ele está acostumado a fazer exatamente esse tipo de persona, então não há nada muito novo e ele parece até mesmo estar confortável em cena. O fato é que Mortdecai é ruim por si só.
Adaptado da obra de Kyril Bonfiglioli, Mortdecai – A Arte da Trapaça possui um elenco de peso – Gwyneth Patrow, Ewan McGregor e Paul Bettany também participam da fita. Mas todas as suas personagens beiram a canastrice, desde um mordomo ninfomaníaco a um inspetor de polícia bobão que disputa com o protagonista o amor de sua esposa insossa. O próprio Charlie é um tipo que não desperta a menor empatia: não se sabe se ele é um herói ou vilão, pois ele não faz nada relativamente grandioso para ser admirado ou odiado, oscilando entre esses dois extremos de forma irregular. Tudo é acentuado em um roteiro mal construído, que não deixa claro em nenhum momento qual é a proposta do filme: ora comédia, ora policial, Mortdecai falha em ambos já que a veia cômica não funciona e recorre a piadas culturais e artísticas sem o menor sentido, enquanto as tramas policiais não empolgam.
Com uma trilha sonora previsível e todo seu ar caricatural, Mortdecai escancara apenas o desgaste da imagem de seu protagonista. Não há dúvidas: o público parece ter se cansado de Johnny Depp; sua carreira parece estar estagnada e seu talento esvanecendo. Mas como falei, ele não é o responsável direto por todo o estrago que é Mortdecai. O diretor David Koepp (que já dirigiu Depp em A Janela Secreta) tinha em mãos um material batido e sem muito charme e assim fica difícil para qualquer elenco fazer milagre. Mortdecai é um filme que até poderia ser um bom entretenimento – e pode até agradar um ou outro que vá ao cinema sem nenhuma expectativa. Culpar Johnny Depp? Acho injustiça. Fechando os olhos para Depp e considerando todo o restante, Mortdecai – A Arte da Trapaça é uma bomba com a presença do astro ou não.