Corrente do Mal (It Follows)

Apontado como uma das gratas surpresas do Festival de Sundance 2015, Corrente do Mal está sendo saudado pela crítica como um dos melhores filmes de terror dos últimos anos – e, considerando o gênero, não é algo que a gente encontre por aí todo dia. De fato, esta produção sobre fantasmas tem seus devidos méritos e pode agradar aos fãs do estilo, apesar de não ser um projeto memorável. A trama, passada no subúrbio de uma Detroit decadente (cinza e solitária, como uma verdadeira cidade fantasma), acompanha Jay, uma adolescente comum como tantas outras de sua idade. Após uma noite de sexo casual com Hugh, o rapaz com quem está saindo, Jay descobre algo improvável: Hugh transmitiu a ela uma maldição, que fará com que Jay seja perseguida por uma entidade que assume diversos corpos. Para se livrar desta criatura e salvar sua vida, Jay tem que passar esse mal adiante da mesma forma como o contraiu: transando com outra pessoa.

01 A princípio, alguns podem pensar que trata-se de uma analogia ao sexo sem proteção e a disseminação de doenças sexualmente transmissíveis, mas a verdade é que a metáfora pode estar muito mais ligada à perda da virgindade ainda na adolescência – e a “maldição” como uma punição que acompanhará o jovem (ou melhor, a jovem) durante toda sua vida. É como se fosse um peso que se tem a carregar, o que traz um caráter ligeiramente mais social à história. No entanto, são apenas teorias – que podem até mesmo ser jogadas por terra com o fato de que o “mal” em questão perde seu impacto quando passado adiante. A câmera do diretor David Robert Mitchell nos dá a interessante sensação de que estamos próximos da protagonista, uma vez que é como se os personagens estivessem sendo observados a todo instante. Além disso, as lentes percorrem todos os cantos, reproduzindo cenários que incluem uma casa minimamente decorada, uma praia deserta ou mesmo os bairros de um subúrbio deprimente, que agregam um ar de mistério à narrativa. No entanto, é a trilha sonora quem mais contribui para o clima macabro da fita: com uma pegada psicodélica e abstrata, o uso de sintetizadores nos leva de volta aos filmes de terror dos anos 80 e, de longe, é o ponto forte de Corrente do Mal.

Infelizmente, as atuações deixam a desejar: apesar de uma protagonista regular, o elenco de apoio é fraco – mas não tanto quanto o argumento. Na tentativa de aumentar o suspense, os personagens não são suficientemente desenvolvidos, muito menos a entidade. Nenhuma informação sobre qualquer coisa em Corrente do Mal é fornecida, como se o cineasta quisesse apenas retratar os fatos como são, dando ao espectador a oportunidade de tirar suas próprias conclusões. Infelizmente, o filme perde o fôlego em vários momentos, onde os poucos sustos são postos de lado e dramas não tão atraentes vem à tona, além da falta de terror gráfico. Corrente do Mal até consegue assustar aqui e ali e criar uma aura de tensão, mas se sai muito melhor em seu visual vintage, que reforça o mistério e gera uma identidade única para o filme. Pena que nem sempre beleza fala mais alto – às vezes, é importante ter um pouco de conteúdo…

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