Quando surgiu com Let Yourself In, em 2008, Tiago Iorc era um jovem artista que buscava (ou não) apenas um lugar ao sol. Elogiado, o álbum de estréia rendeu-lhe ótimos singles (muitos viraram trilhas de novela, quase um “carma” para o brasiliense). A voz doce, a sonoridade pop leve e sem forçar a barra e as composições em inglês caíram no gosto do público, não apenas no Brasil, mas também no exterior – o que seria suficiente para Tiago impulsionar uma sólida carreira internacional. Mas isso, de fato, não aconteceu: Tiago fez turnês mundo afora (especialmente na Ásia), ganhou certa visibilidade mas fez no Brasil sua fanbase mais fiel, principalmente no ambiente virtual, onde Tiago é bastante querido.
Esse pequeno panorama é interessante para que possamos entender o que Troco Likes representa na discografia de Tiago. Quarto álbum do cantor, Troco Likes é um Tiago Iorc revigorado, refletindo claramente as mudanças que o tempo lhe trouxe e que foram surgindo gradualmente no decorrer de sua curta carreira. Troco Likes, mais do que qualquer trabalho anterior (como Umbilical e Zeski, respectivamente de 2011 e 2013), é Tiago Iorc sendo Tiago Iorc, mostrando sua verdadeira faceta como artista e como ser humano. Dessa forma, Troco Likes apresenta um Tiago muito mais maduro e à vontade consigo mesmo, não apenas cantando, mas sobretudo interpretando, sentindo o que está dizendo a cada letra.
Tiago abandona quase por completo o inglês como idioma e abraça o português – o que pode sugerir que Troco Likes é uma invariável continuação de Zeski, mas não vamos pensar nisso. Todas as faixas são em sua língua nativa (exceto a bônus Till I’m Old and Gray, uma das mais gratas surpresas, apenas com voz e violão) e escancaram uma nova fase de Tiago: a felicidade. O cantor deixa de lado o tom soturno do último CD, as letras mais introspectivas e densas e aposta em uma pegada bem mais alegre. Não que as faixas mais tristonhas sejam inexistentes, como é o caso de Eu Errei, Cataflor e Liberdade ou Solidão – essas duas últimas com ótimos arranjos de cordas, acentuando bastante o clima melancólico. Apenas o disco é muito mais ensolarado, radiante, claro.
E é aí que conhecemos Tiago como ele é e para o que realmente veio. As canções aí se dividem quase em dois grupos: as mais românticas, como Amei Te Ver (de longe, a que mais nos remete ao estilo de Let Yourself In), a deliciosa De Todas as Coisas e Coisa Linda (primeira música de trabalho, uma ode ao amor e uma das melhores composições de Tiago); e as que possuem críticas sociais, como Bossa (onde Tiago já grita “Atenção: as pessoas não precisam ser iguais as outras!”) ou Sol Que Faltava, onde o intérprete cria um novo verbo (“instagramear”) para cutucar a “geração Whatsupp” e o universo das redes sociais – daí talvez se explique o curioso título Troco Likes, cuja capa nos traz um desenho de Tiago forçando um sorriso amarelo. Por sua vez, vocalmente o rapaz continua imbatível e arrisca a voz em faixas como Alexandria (que possui um refrão pegajoso, mas eficiente) e a simplesmente espetacular Mil Razões – a música mais ousada do disco, com corajosos arranjos de metais.
Troco Likes é um dos melhores álbuns nacionais do ano até aqui. Apesar de se distanciar do estilo que o consagrou, Tiago ainda tem como ponto forte sua voz suave e os arranjos serenos e bem executados. Talvez Troco Likes esbanje tanta alegria e luz por refletir a boa fase amorosa do artista: Tiago namora há algum tempo a atriz Isabelle Drummond e frequentemente o casal é clicado por aí – e o público percebe que os dois estão super bem, obrigada. Ouvir Coisa Linda, por exemplo, é praticamente enxergar o cantor sussurrando a letra no ouvido da namorada apaixonada, pare para analisar. Pudera: afinal, Troco Likes é apaixonante.